ABRUPTO

7.5.07


IMAGENS PARA OS DIAS DE HOJE

Uma das "bocas da verdade" existentes em Veneza para permitir as "denúncias secretas em matéria de estado".

(url)


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: O NOSSO POBRE INDIVIDUALISMO...



(...) neste tempo de apelo governamental à denúncia dos fumadores, dos corruptos, dos que fogem aos impostos, pareceu-me interessante recuperar este texto de Jorge Luis Borges. Foi retirado do artigo "Nuestro pobre individualismo", que integra a obra "Otras Inquisiciones" in Jorge Luis Borges- Obras completas, vol. I: 1923-1972, Buenos Aires, Emecé, 1989, p. 658-659.

El argentino, a diferencia de los americanos del Norte y e casi todos los europeos, no se identifica con el Estado. Ello pude atribuirse a la circunstancia de que, en este país, los gobiernos suelen ser pésimos o al hecho general de que el Estado es una inconcebible abstracción; lo cierto es que el argentino es un individuo, no un ciudadano. Aforismos como el de Hegel "El Estado es la realidad de la idea moral" le parecen bromas siniestras. Los films elaborados en Hollywood repetidamente proponen a la admiración el caso de un hombre (generalmente, un periodista) que busca la amistad de un criminal para entregarlo después a la policía; el argentino, para quién la amistad es una pasión y la policía una maffia, siente que ese "héroe" es un incomprensible canalla. Siente con D. Quijote que "allá se lo haya cada uno con su pecado" y que "no es bien que los hombres honrados sean verdugos de los otros hombres, no yéndoles nada en ello" (Quijote, I, XXII). Más de una vez, ante las vanas simetrías del estilo español, he sospechado que diferimos insalvablemente de España; esas dos líneas del Quijote han bastado para convencerme del error; son como el símbolo tranquilo y secreto de nuestra afinidad. Profundamente lo confirma una noche de la literatura argentina: esa desesperada noche en la que un sargento de la policía rural gritó que no iba a consentir el delito que se matara a un valiente y se puso a pelear contra sus soldados, junto al desertor Martín Fierro.

El mundo, para el europeo, es un cosmos, en el que cada cual íntimamente corresponde a la función que ejerce; para el argentino, es un caos. El europeo y el americano del Norte juzgan que ha de ser bueno un libro que ha merecido un premio cualquiera; el argentino admite la posibilidad de que no sea malo, a pesar del premio. En general, el argentino descree de las circunstancias. Puede ignorar la fábula de que la humanidad siempre incluye treinta y seis hombres justos -los Lamed Wufniks- que no se conocen entre ellos pero que secretamente sostienen el universo; si la oye, no le extrañará que esos beneméritos sean oscuros y anónimos...Su héroe popular es el hombre solo que pelea con la partida, ya en acto (Fierro, Moreira, Hormiga Negra), ya en potencia o en el pasado (Segundo Sombra). Otras literaturas no registran hechos análogos. Consideremos, por ejemplo, dos grandes escritores europeos: Kipling y Franz Kafka. Nada, a primera vista, hay entre los dos de común, pero el tema de uno es la vindicación del orden, de un orden (la carretera en Kim, el puente en The Bridge-Builders, la muralla romana en Puck of Pook's Hill); el del otro, la insoportable y trágica soledad de quien carece de un lugar, siquiera humildísimo, en el orden del universo.

Se dirá que los rasgos que he señalado son meramente negativos o anárquicos; se añadirá que no son capaces de explicación política. Me atrevo a sugerir lo contrario. El más urgente de los problemas de nuestra época (ya denunciado con profética lucidez por el casi olvidado Spencer) es la gradual intromisión del Estado en los actos del individuo; en la lucha con ese mal, cuyos nombres son comunismo y nazismo, el individualismo argentino, acaso inútil o perjudicial hasta ahora, encontrará justificación y deberes.
(António Cardoso da Conceição)

(url)


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: O NASCER DA EUROPA



A única Europa que é provável ver nascer nos tempos mais próximos é esta: Europa, satélite de Júpiter. Hoje aqui.

(url)


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 7 de Maio de 2007


Um dos apresentadores num noticiário qualquer televisivo disse de passagem, certamente pensando nas dezenas de minutos que em cada noticiário se passa especulando sobre o possível rapto de uma menina inglesa no Algarve, que é o assunto a que todos os jornais ingleses dão a primeira página. Não é verdade. Devia ter dito a que todos os tablóides ingleses dão a primeira página. É essa a comparação certa com os nossos noticiários televisivos (com triste relevo para a RTP, a do "serviço público"), a dos jornais tablóides.

*
O caso da menina britânica raptada ocupava sábado passado a primeira página de todos os jornais no Reino Unido. Mesmo o conservador Daily Telegraph tinha uma fotografia da menina que ocupava metade da página.

A BBC on-line tem a notícia na sua primeira página desde que se deu o rapto. A BBC 1 tem colocado a notícia em segundo lugar na ordem das notícias do jornal da noite.

O caso está a mobilizar o Reino Unido por se tratar de um desparecimento de uma menina num local supostamente seguro para crianças. E provavelmente porque muitos pais terão feito o mesmo que os McCann - irem jantar fora a um restaurante próximo do apartamento onde deixaram os filhos a dormir.

A nossa polícia não surge com a melhor das imagens, pois notícias que aqui circulam indiciam que terá começado a actuar tarde. Jornais referem também que Portugal não tem departamentos especializados em crimes contra crianças, o que consideram inexplicável num país onde abundam redes de pedofilia. Apelidam de caóticas as conferências de imprensa dadas pela Polícia. É preciso não esquecer que a polícia britânica é especialista em relações públicas e em comunicação.

Acima de tudo, Deus queira que a nossa Polícia Judiciária consiga efectivamente descobrir a menina, sã e salva.

(Ana Pinheiro)
*

A máquina de desvalorizar já está em pleno funcionamento para a Madeira.

NOTA - A carta do leitor reproduzida em baixo levou-me ao mesmo artigo de Domingos de Andrade, mas agora sobre as eleições da Madeira. Começa assim:
Jardim não ganhou. Ganhou o populismo fácil. Jardim quis plebiscitar a lei das finanças regionais, quis mostrar ao continente que o povo, o povo dele, o povo que vive das migalhas que ele displicentemente deixa cair, as migalhas do bolo que pagamos, está contra o controlo das verbas por parte do Governo central. Jardim não ganhou. Perdeu o isolado PS- -Madeira, que não soube apresentar - ou não tinha - uma alternativa credível. Se é que valia a pena.
*
Em artigo assinado pelo chefe de redacção do Jornal de Notícias (Domingos de Andrade) escreve-se a propósito dos resultados das eleições francesas "Ganhou o discurso fácil de Sarkozy, que melhor soube interpretar e ludibriar o desejo de mudança dos franceses". Na continuação acrescenta "É preciso, disse no discurso de vitória, "reabilitar" o trabalho, a "autoridade" e o "mérito". São as palavras de ordem que sucederão aos últimos 200 anos de Liberdade, Fraternidade e Igualdade" - .

Não obstante não ser partidário de Sarkozy não deixo de ficar perplexo com este texto. É que de duas uma: ou o chefe de redacção do JN desconhece a realidade francesa e não acompanhou a campanha eleitoral, logo não deveria escrever sobre o assunto ou temos que admitir simplesmente que se trata duma escrita eivada de má fé em que as preferências partidárias e ideológicas primam sobre a objectividade do jornalista.

Ainda a propósito do discurso fácil - conviria recordar quem prometeu o aumento generalizado das prestações sociais, quem reeditou o usual refrão "os ricos que paguem a crise" a propósito das propostas de limitação dos impostos a 50% dos rendimentos, e num registo quase melodramático a propósito da violação de duas agentes de polícia num dos bairros dos suburbios de Paris sugeriu que no futuro as agentes passassem a ser acompanhadas pelos seus colegas nos seus trajectos quotidianos (o que mereceu de Sarkozy o comentário "os funcionários passam a ter como função proteger ... os funcionários". Talvez Domingos Andrade devesse reflectir sobre as palavras de um dos tenores do PSF - Dominique Strauss Kahn - que em comentário após os resultados disse "não podemos continuar a persistir numa visão ultrapassada do mundo - há que encetar uma renovação rumo à social democracia ...". Aparentemente Domingos Andrade apenas reteve a palavra de ordem da ala esquerda do PS, do PC (cuja candidata na primeira volta não atingiu os 2%) e da extrema esquerda "Tudo menos Sarkozy" que em si mesma é já um insulto aos eleitores.

A questão fundamental nem sequer são as ideais pessoais de Domingos de Andrade. O que se passa é que perante uma visão tão marcadamente enviesada da realidade não deixo de me perguntar se a sua objectividade jornalística, e a do jornal de que é chefe de redacção, conseguirão sobreviver.

(Carlos Oliveira, Luxemburgo)

Etiquetas:


(url)


IMAGENS QUE FALAM

A bandeira portuguesa em Ramallah, Autoridade Palestiniana, no edifício onde funciona a Representação de Portugal.

(url)


EARLY MORNING BLOGS
1015 - Bond and Free

Love has earth to which she clings
With hills and circling arms about—
Wall within wall to shut fear out.
But Thought has need of no such things,
For Thought has a pair of dauntless wings.

On snow and sand and turf, I see
Where Love has left a printed trace
With straining in the world’s embrace.
And such is Love and glad to be.
But Thought has shaken his ankles free.

Thought cleaves the interstellar gloom
And sits in Sirius’ disc all night,
Till day makes him retrace his flight,
With smell of burning on every plume,
Back past the sun to an earthly room.

His gains in heaven are what they are.
Yet some say Love by being thrall
And simply staying possesses all
In several beauty that Thought fares far
To find fused in another star.

(Robert Frost)

*

Bom dia!

(url)

6.5.07


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 6 de Maio de 2007


Hoje havia dois assuntos fortes para qualquer telejornal com um mínimo de jornalismo dentro de si, as eleições na Madeira e em França. A RTP falhou por completo, evitando por coincidência dois assuntos incómodos para o PS e o Governo. Isto já para não falar desse pomposo nome de "serviço público" e da ideia de superioridade inerente da informação da RTP sobre as privadas.

A RTP fez o pior de todos os telejornais, desconexo e errático, centrado no caso do rapto da menina no Algarve (quase 16 minutos na abertura do telejornal, enquanto a TVI e a SIC falavam das eleições). No seu conjunto, a estação que tem mais meios pagos pelo erário público, correspondentes em França e uma delegação na Madeira, só falou por favor das eleições em França e tratou as eleições da Madeira com desprezo. Nem sequer quem viu a RTP ficou a saber o mínimo numa noite eleitoral, a comparação de números entre as últimas eleições e as actuais, nem os resultados dos pequenos partidos que tinham uma competição própria. Tudo muito mau, com a cereja em cima do péssimo bolo, Marcelo e Vitorino a fazer um papel decorativo, sem chama, nem controvérsia, espelhando a intencionalidade baça de todo o telejornal.

Etiquetas:


(url)


SEMPER IDEM

(Van Gogh)

(url)


A TERCEIRA ENTIDADE



Por detrás de Carmona Rodrigues, ao lado, em cima, a aplaudir às claras, a conspirar às escuras, a conspirar às claras, a mover-se quer como um polvo, quer como aqueles pombos que vinham nos livros antigos de zoologia, um a que tinham tirado o cérebro e ficava firme e hirto, outro a quem tinham tirado o cerebelo e ficava ali pousado na sua própria gravidade, está uma entidade pouco visível em todo este processo. Na sua declaração, Carmona Rodrigues referiu-se-lhe de passagem sem a nomear. Esta terceira entidade na crise lisboeta, não sendo decisiva em nada de importante como seja ganhar eleições, é fundamental nas peripécias. Ora peripécias é o nome do processo de Lisboa a partir de agora. Esta entidade é o aparelho político do PSD em Lisboa, a distrital de Lisboa.

Duas prevenções são necessárias. Uma é que a distrital de que falo está muito para além da sua actual presidente, e pouco tem a ver com ela, já lá estava antes, estará lá depois. Os presidentes passam, mas os mesmos homens e mulheres lá ficam agarrados aos seus pequenos e pequeníssimos poderes, nas secções, uns na oposição, outros controlando secções onde funcionam como caciques há longos anos. Todos têm um longo historial de conflitos, agudíssimos pela proximidade, uns contra os outros, aliando-se e zangando-se conforme as conveniências, arregimentando-se atrás da "situação" (a distrital e o seu presidente, ou os autarcas em funções), ou combatendo-a sem descanso. São várias centenas de pessoas, do PSD, da JSD e dos TSD, que "militam" no preciso termo da palavra, mantêm as estruturas a funcionar, reúnem-se, discutem, organizam umas sessões, mas, acima de tudo, prosseguem uma actividade de marcação de território, de conquista ou minagem.

A segunda prevenção é que tudo o que eu digo sobre a distrital de Lisboa é aplicável ipsis verbis à estrutura idêntica do PS na capital. Os dois partidos funcionam da mesma maneira e têm um "pessoal" político que parece tirado a papel químico. E a questão está muito para além de ser do PSD ou do PS. Tem a ver com a degradação acentuada dos aparelhos partidários em Portugal. Revelam-se na sua actuação não só velhas tendências diagnosticadas há muito na "oligarquização" dos partidos, mas também as fragilidades do tecido político nacional e a crise dos partidos dentro da crise mais geral das mediações nas sociedades que caminham da democracia para a demagogia.

Eu conheço bem esta realidade porque fui presidente da distrital de Lisboa, onde ganhei duas eleições (uma das quais as primeiras directas no PSD) e perdi vergonhosamente uma. Foi a minha experiência política mais desastrosa, mais desgastante, menos rewarding, mas foi aquela em que aprendi mais e, num certo sentido, uma das mais interessantes para perceber muita coisa que se passa no PSD, e o próprio PSD e o PS. Prometo a mim próprio há muitos anos escrever uma memória destes tempos, mas talvez ainda seja cedo ou tarde de mais, até porque os nomes circulantes continuam por aí, e continuarão até morrer porque esse é o seu modo de vida. Já estiveram comigo, com os meus opositores, com os opositores dos meus opositores, com os amigos e com os inimigos, mas estão lá, que é o que interessa. Muitos deles são instrumentais na crise de Lisboa, uns a favor de Carmona, outros de Marques Mendes, outros virulentamente contra os dois, ou só contra um deles. Farão tudo para se defender e aos seus lugares, e farão tudo para varrer os outros dos lugares. É a lei da selva mais dura que para aí anda, com um grau de produção de "inimigos íntimos" sem dimensão fora da política, mas "eles" são a distrital de Lisboa e não há outra.

Tiro já da equação factores que têm hoje um pequeno papel em todo este processo. Um é a componente ideológica e partidária, a adesão a um corpo de ideias e políticas, uma obrigação de intervenção cívica, que nos primeiros anos do PSD era um motivador das suas "bases" e que agora é apenas uma sobrevivência inútil. As listas nas secções e na JSD não têm qualquer lastro ideológico e político e são quase inteiramente "posicionais": contra este ou aquele, de "oposição ao líder", ou ao seu serviço, a favor deste ou daquele grupo, deste ou daquele interesse. O essencial é constituir sindicatos de votos que ou são livres de se deslocarem ao serviço dos seus donos, ou são emanações de outros grupos e de outras pessoas, de cujo sucesso político ficam dependentes, como é o caso dos "santanistas".

As velhas classificações, como a de "sá carneirista", são hoje meramente instrumentais e usam-se cada vez menos. Um dos grandes "sá carneiristas" que conheci numa secção dos subúrbios de Lisboa mal verificou que não seria recandidato a uma vereação, depois de fazer tudo, e foi mesmo tudo, para conseguir manter o lugar, acabou depois por procurar o PRD, o PSN e por fim o PDC, partidos que existiam apenas nominalmente, para conseguir candidatar-se contra o PSD. Existe ainda a "camisola", uma identidade laranja forte, principalmente nos mais velhos, mas é uma atitude póstuma nas cidades, embora ainda haja pelo país fora sobrevivências desta antiga cultura de partido, feita da resistência nos anos difíceis dos anos 70 e 80, ela está em extinção.

O segundo factor é a ilusão de que haja qualquer ética de serviço público, qualquer vontade cívica, qualquer projecto que não esteja ao serviço de objectivos que são para eles "profissionais" no sentido pleno, para si ou para os seus familiares e amigos. Ninguém quer verdadeiramente ganhar nada, mas querem manter o statu quo e esse statu quo é medido pelo número de lugares de que dispõe um grupo ou uma secção e a sua categoria (a resistência do aparelho do PS a eleições em Lisboa é da mesma natureza). Esses lugares são aqueles que aparecem nas estatísticas da oposição como as dezenas e centenas de militantes do PSD e da JSD (lembro, no PS é a mesma coisa) que entraram para este ou aquele departamento da Câmara de Lisboa, esta ou aquela empresa municipalizada, gabinete da vereação ou serviço municipal.

Há os fiéis de Santana que Carmona afastou e que são violentamente anti-Marques Mendes, há os fiéis de Paula Teixeira da Cruz herdados de António Preto, que são pró-Marques Mendes, há os opositores a Paula Teixeira da Cruz e ligados a Helena Lopes da Costa, secretária-geral proposta por Luís Filipe Menezes, há os que se colaram a Carmona e ao seu poder autárquico e que sabem que, se este cair, caem com ele para o ajuste de contas dos seus adversários, lugar a lugar, secção a secção, há os "companheiros" do vereador A ou B, o seu grupo de apoiantes a quem atribuiu lugares na estrutura da câmara e que sabem que tão cedo não voltam, há uma miríade de interesses instalados que resistirão manu militari. Não me admira pois que mandem o partido às malvas e queiram desesperadamente lá ficar, a não ser que percebam que a sua atitude é inútil.

Face a eles não adianta perguntar qual o poder de Carmona, Paula Teixeira da Cruz ou Marques Mendes, porque a resposta é quase nenhum. Terão, talvez, algum poder em 2008, mas todos os seus adversários trabalham afincadamente para que não estejam lá em 2008 a fazer as listas para 2009. Há uma frase atribuída a Jaime Gama sobre os jornalistas, que dizia que "ou se tinha poder para os despedir ou dinheiro para os comprar". Infelizmente para todos, a situação nos partidos não é muito diferente e ninguém tem nem uma coisa nem outra.

( Público de 5 de Maio de 2007)

*
O seu artigo no "Público" (05/05/07) e no "Abrupto" é mais uma reflexão sobre o funcionamento do nosso sistema político. Na minha modesta opinião é o problema central dos modelos democráticos - portanto muito mais que um problema exclusivamente Português.

Não sei se existe um estudo sociológico sobre a composição dos partidos políticos (pelo menos eu não conheço). Seria útili conhecer a profissão dos militantes, principalmente dos partidos de poder. Tenho a percepção que a esmagadora maioria das bases é constituída por um corpo de funcionários públicos e para-públicos que, lentamente, diria mesmo naturalmente, se aproximaram dos partidos politicos e se tornaram militantes. Estão nas autarquias, em grande número, mas em muitas outras instituições. Institutos de emprego, delegações regionais de ministérios, comissões de coordenação e, muitas outras (que nem suspeito que existem).

Ora esta realidade, apesar de estar longe dos centros de decisão e de poder, condiciona a actividade local dos partidos e a longo prazo condiciona a actividade e as decisões politicas. Como se consegue reestruturar a administração publica com esta fortíssima contra corrente? Como podem as bases dos partidos suportar decisões com impactos profundos nas suas vidas?

O que se passa nas distritais é a espuma desta amalagama. A rede de dependencias entre as pessoas, as histórias de pequenas traições, transparecem nas atitudes na hora de tomar decisões políticas e formalizar candidaturas. Esta reflexão leva-me a duvidar daqueles que contestam, por exemplo, o papel do secretário geral ou do presidente do partido, na hora se escolher os candidatos a deputados. Então com este ambiente, devem ser as bases?

Romper este ciclo vicioso é uma tarefa gigantesca. Mas as grandes obras também se fazem com tijolos. Quem nos dá pistas sobre o modo de o conseguir?

(Pedro Geirinhas Rocha)

Etiquetas:


(url)


NUNCA É TARDE PARA APRENDER: UMA GUERRA DE SURPRESAS

http://www.booksamillion.com/bam/covers/0/80/521/124/0805211241.jpgAbraham Rabinovich, The Yom Kippur War: The Epic Encounter That Transformed the Middle East, Nova Iorque, Schoken Books, 2005.

O recente relatório Winograd sobre a Segunda Guerra do Líbano, muito crítico do governo de Olmert e da liderança militar, não é inédito na tradição da democracia israelita. A Comissão Agranat, analisando a guerra conhecida como a do Yom Kippur, por se ter iniciado nesse dia de feriado judaico em 1973, foi também um documento duríssimo, que levou ao afastamento de alguns dos militares mais prestigiados do exército israelita, como o general Elazar e o chefe dos serviços de informação militar, e atingiu Moshe Dayan e Golda Meir, respectivamente Ministro da Defesa e Primeiro-Ministro. O Relatório Agranat (como o Relatório Winograd) gerou manifestações violentas contra a liderança política e militar de Israel e acabou por ter consequências políticas a médio prazo muito significativas.

E no entanto... os israelitas ficaram a um passo de ganhar a guerra e colocar os seus tanques nos arrabaldes de Damasco e do Cairo e só não foram mais longe porque os americanos lhes fizeram um ultimato, obrigando-os a parar. Embora ficasse no ar um sabor a meia vitória, esse sabor fora imposto de fora, e não resultara da situação militar no terreno, claramente favorável aos israelitas. Mas foi o início da guerra que marcou traumaticamente os israelitas, que estiveram no limiar de um desatre militar que podia, no dizer de Dayan, no seu momento mais deprimido, destruir o "Terceiro Templo", ou seja o Estado de Israel. A ofensiva do Egipto e da Síria foi uma surpresa e não devia ter sido, e todas as certeza que tinham os militares israelitas sobre a sua superioridade face aos árabes revelaram-se ilusórias. Apoiados em novo armamento soviético - os mísseis SAM impediram a aviação de actuar, e o armamento anti-tanque usado massivamente pela infantaria provocou perdas muito significativas nas divisões blindadas -. os soldados egípcios mostraram uma valentia e profissionalismo que espantaram os soldados e oficiais israelitas. E, dois dias depois, os exércitos árabes tinham ocupado as margens do canal no Sinai e uma parte dos Montes Golan a norte.

Depois veio a reacção israelita.

(Continua.)

Etiquetas: ,


(url)


EARLY MORNING BLOGS
1014 - O Caçador e a Rede

The image “http://latin.bestmoodle.net/media/1501beaver_400.jpg” cannot be displayed, because it contains errors.

Estendia um Caçador suas redes. Um Melro, que o viu, perguntou-lhe o que fazia. Respondeu-lhe o Caçador, que edificava uma cidade; e acabando de espalhar as redes, escondeu-se. O Melro, dando-lhe crédito, chegou-se para ver o novo edifício, e caiu na rede. Saiu o Caçador para apanhá-lo, e o Melro lhe disse mui indignado: Homem falso, e enganador, se assim edificas tal cidade, poucos habitadores lhe acharás.

(Esopo, Fábulas, vertidas do grego por Manuel Mendes)

*

Bom dia!

(url)

5.5.07


PESSOAS 2


(url)


INTENDÊNCIA


Em actualização ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO.

(url)


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 5 de Maio de 2007


Dada a natureza do benevolente cuidado que o Estado espalha sobre todos nós, mesmo para com os nunca-fumadores como eu próprio, aqui se chama atenção, como serviço público, que deveria ser pago pelos critérios da RTP, para o último número de Nicotine & Tobacco Research, acabado de sair e onde há artigos como

Sociocultural correlates of menthol cigarette smoking among adult African Americans in Los Angeles

The impact and acceptability of Canadian-style cigarette warning labels among U.S. smokers and nonsmokers

Anxiety sensitivity and early relapse to smoking: A test among Mexican daily, low-level smokers

etc, etc. O mundo dos ricos é de facto interessante.

*

E já agora alguém me explica por que razão as Nações Unidas gastam dinheiro numa campanha em Portugal (e noutros países do Primeiro Mundo) de "Prevenção Rodoviária", certamente uma matéria muito importante mas longe de poder ser considerada prioritária em relação aos problemas mais agudos dos países subdesenvolvidos e em que cada tostão conta para salvar milhões de pessoas?

Etiquetas: ,


(url)


NEM TODOS OS PRIMEIRO DE MAIO SÃO IGUAIS

Primeiro de Maio em Nouakchott, Mauritania.

(Eduardo Jorge)

(url)


EARLY MORNING BLOGS
1013 - Leda and the Swan

A sudden blow: the great wings beating still
Above the staggering girl, her thighs caressed
By the dark webs, her nape caught in his bill,
He holds her helpless breast upon his breast.

How can those terrified vague fingers push
The feathered glory from her loosening thighs?
And how can body, laid in that white rush,
But feel the strange heart beating where it lies?

A shudder in the loins engenders there
The broken wall, the burning roof and tower
And Agamemnon dead.
Being so caught up,
So mastered by the brute blood of the air,
Did she put on his knowledge with his power
Before the indifferent beak could let her drop?

(W. B. Yeats )

*

Bom dia!

(url)


MAR

No mar sobre o Funchal.

(Carlos Oliveira)

(url)


COISAS DA SÁBADO : ANTES E DEPOIS

Um dos elementos fundamentais da retórica do Primeiro-ministro é que “antes” não se fazia nada, não se decidia nada, a oposição defendia sempre o contrário de hoje; “agora” decide-se tudo, faz-se tudo, sempre com um “rumo” certo e seguro que o PS sempre teve. Quando ouço isto, só há uma pergunta que acho que deveria ser obrigatório fazer: naquele preciso momento do “antes” quais eram as posições que o PS e José Sócrates defendiam sobre a matéria respectiva?

Para se reconstruir honestamente o mundo de “antes” é vital saber o que é que eles defendiam “antes”. E aqui a resposta é simples: o PS e José Sócrates defendiam o contrário de “agora”, sendo que o “agora” é muito mais parecido com o que os outros defendiam “antes”. “Antes” era a “obsessão do deficit”, “agora” é o “rigor orçamental”; “antes” era o “discurso da tanga”, “agora” é “um momento muito difícil”; “antes” era colocar os números antes das pessoas, “agora” é a irresponsabilidade de colocar as pessoas antes dos números, na saúde, na segurança social, na administração pública. Esta retórica política é uma das coisas que mais desprestigiam a política em democracia. PSD e PS pagam um preço significativo por essa retórica, mas o actual Primeiro-ministro é de uma desfaçatez acima do comum nesta forma de mentira.

(url)

4.5.07


LIVROS NAS TERRAS DO LIVRO 6

Livros nas ruas. Rua Allenby, Telaviv, Israel.

Clicar sobre a foto para aumentar.

(url)


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 4 de Maio de 2007


Isto em política é preciso ter uma paciência de Job, em particular quando se atravessa um período de vacas magras; um período de casa sem pão, onde todos ralham e ninguém tem razão; um período de fome má conselheira; um período em que se é preso por ter cão e por não ter. E há muitos provérbios populares significativos para o caso. Antes de Marques Mendes tomar uma posição, todos lha exigiam; depois de a tomar, todos a criticam. E nem sequer é uma decisão entre muitas, é esta mesmo, precisamente a que tomou, a que lhe exigiam, esta mesmo que lhe criticam. Ou porque é tarde de mais, ou porque é cedo demais, ou por mil e uma razões que servem agora e não servem depois.

Etiquetas: ,


(url)


EARLY MORNING BLOGS
1012 - O Casamento do Sol

Dizem que em certo tempo desejou o Sol de se casar, e todas as gentes, agravadas disso, se foram queixar a Júpiter, dizendo: - Que no Estio trabalhosamente sofriam um Sol, que com seus raios os abrasava, donde inferiam e provavam, que se o Sol casasse e viesse a ter filhos, queimaria o mundo todo; porque um Sol faria Verão calmoso na Índia, outro em Grécia, outro na Noruega e terras setentrionais; pelo que sendo todas as três zonas tórridas, não teriam as gentes onde viver. Visto isto por Júpiter, mandou que não casasse.

(Esopo, Fábulas, vertidas do grego por Manuel Mendes)

*

Bom dia!

(url)

3.5.07


IMAGENS QUE FALAM

Clicar sobre as fotos para aumentar.

Em cima , Al-Haram al-Sharif, a "plataforma das mesquitas", raramente vazia. A segurança israelita abre o acesso aos não muçulmanos apenas por um período muito escasso, e mesmo assim quase ninguém passa hoje os controlos. Os polícias israelitas avisam com insistência para ninguém transportar Bíblias para a esplanada.

Em baixo, junto do Muro das Lamentações, uma pequena multidão de judeus participa em várias celebrações de Bar Mitzvah, o ritual da chegada dos jovens à maturidade. O Muro das Lamentações é o contraforte do antigo Templo destruído, sobre o qual se encontram actualmente os lugares santos muçulmanos. Embora de um lugar a outro bastam subir umas escadas, a distância é quase infinita.

(url)


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 3 de Maio de 2007


Afinal Pina Moura, convidado no dizer do próprio como "gestor" e pelas suas afinidades "ideológicas", foi-o, no dizer do seu patrão Manuel Polanco, " escolhido para presidir o grupo devido aos contactos que tem «na alta finança e na alta política» (TSF, hoje) ou seja como lobiista. Apetecia-me dizer que esta história ainda acaba mal, mas como é uma história portuguesa, melhor ibérica, nunca se sabe.

*

Temos, pois, Pina Moura "na qualidade de gestor", "na qualidade de político", "na qualidade de lobiista" ou noutra qualidade qualquer.

Tudo bem. Mas essa ideia de que uma pessoa pode ser uma coisa ou outra conforme "a qualidade que mais convém ao caso" , faz lembrar esta anedota de 1925 em que o patrão beijava a cozinheira... "na qualidade de artista da cozinha"...

C. Medina Ribeiro

(url)


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: UM DEMÓNIO MARCIANO

The image “http://www.nasa.gov/images/content/174230main_dd_enhanced_1120a.gif” cannot be displayed, because it contains errors.

(url)


BIBLIOFILIA


(url)


EARLY MORNING BLOGS
1011 - Entretiens sur la pluralité des mondes

Nous allâmes donc un soir après souper nous promener dans le parc. Il faisait un frais délicieux, qui nous récompensait d'une journée fort chaude que nous avions essuyée. La Lune était levée il y avait peut-être une heure et ses rayons, qui ne venaient à nous qu'entre les branches des arbres, faisaient un agréable mélange d'un blanc fort vif, avec tout ce vert qui paraissait noir. Il n'y avait pas un nuage qui dérobât ou qui obscurcît la moindre étoile, elles étaient toutes d'un or pur et éclatant, et qui était encore relevé par le fond bleu où elles sont attachées. Ce spectacle me fit rêver; et peut-être sans la marquise eussé-je rêvé assez longtemps; mais la présence d'une si aimable dame ne me permit pas de m'abandonner à la Lune et aux étoiles.

Ne trouvez-vous pas, lui dis-je, que le jour même n'est pas si beau qu'une belle nuit ? Oui, me répondit-elle, la beauté du jour est comme une beauté blonde qui a plus de brillant; mais la beauté de la nuit est une beauté brune qui est plus touchante. Vous êtes bien généreuse, repris-je, de donner cet avantage aux brunes, vous qui ne l'êtes pas. Il est pourtant vrai que le jour est ce qu'il y a de plus beau dans la nature, et que les héroïnes de romans, qui sont ce qu'il y a de plus beau dans l'imagination, sont presque toujours blondes. Ce n'est rien que la beauté, répliqua-t'elle, si elle ne touche. Avouez que le jour ne vous eût jamais jeté dans une rêverie aussi douce que celle où je vous ai vu près de tomber tout à l'heure à la vue de cette belle nuit. J'en conviens, répondis-je; mais en récompense, une blonde comme vous me ferait encore mieux rêver que la plus belle nuit du monde, avec toute sa beauté brune. Quand cela serait vrai, répliqua-t-elle, je ne m'en contenterais pas. Je voudrais que le jour, puisque les blondes doivent être dans ses intérêts, fût aussi le même effet. Pourquoi les amants, qui sont bons juges de ce qui touche, ne s'adressent-ils jamais qu'à la nuit dans toutes les chansons et dans toutes les élégies que je connais ? Il faut bien que la nuit ait leurs remerciements, lui dis-je; mais, reprit-elle, elle a aussi toutes leurs plaintes. Le jour ne s'attire point leurs confidences; d'où cela vient-il ? C'est apparemment, répondis-je, qu'il n'inspire point je ne sais quoi de triste et de passionné. Il semble pendant la nuit que tout soit en repos. On s'imagine que les étoiles marchent avec plus de silence que le soleil, les objets que le ciel présente sont plus doux, la vue s'y arrête plus aisément; enfin on en rêve mieux, parce qu'on se flatte d'être alors dans toute la nature la seule personne occupée à rêver. Peut-être aussi que le spectacle du jour est trop uniforme, ce n'est qu'un soleil, et une voûte bleue, mais il se peut que la vue de toutes ces étoiles semées confusément, et disposées au hasard en mille figures différentes, favorise la rêverie, et un certain désordre de pensées où l'on ne tombe point sans plaisir.


(Fontenelle)

*

Bom dia!

(url)

2.5.07


IMAGENS QUE FALAM

Clicar sobre a foto para aumentar.

Culturas do Levante.

(url)

1.5.07


IMAGENS QUE FALAM

Clicar sobre a foto para aumentar.

O "estrangulamento" de Belém num mapa usado pelos negociadores da Organização de Libertação da Palestina (OLP) de Dezembro de 2005.


Um das "entradas" (checkpoints) do Muro referidas no mapa acima, vista do lado palestiniano.

(url)


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 1 de Maio de 2007


As "Internacionais" no Arrastão. A portuguesa é um pouco wishy-washy, a inglesa muito folk e country, a alemã com alguma força, e a esperantista bem razoável. Mas a russa é que é o arquétipo, a única a sério, com o Exército Vermelho por trás. O comunismo sem força nunca parece o comunismo. Destinos.

*









Uma aproximação a como se vai ler no futuro passado: a edição em linha de Blogger and Podcaster.

(url)


EARLY MORNING BLOGS
1010 - April 19

We have too much exhibitionism
and not enough voyeurism
in poetry we have plenty of bass
and not enough treble, more amber
beer than the frat boys can drink but
less red wine than meets the lip
in this beaker of the best Bordeaux,
too much thesis, too little antithesis
and way too much New York Times
in poetry we've had too much isolationism
and too few foreign entanglements
we need more Baudelaire on the quai
d'Anjou more olive trees and umbrella pines
fewer leafless branches on the rue Auguste Comte
too much sociology not enough Garcia Lorca
more colons and dashes fewer commas
less love based on narrow self-interest
more lust based on a feast of kisses
too many novels too few poems
too many poets not enough poetry

(David Lehman)

*

Bom dia!

(url)


IMAGENS QUE FALAM

Clicar sobre a foto para aumentar.

Moda palestiniana.

(url)

© José Pacheco Pereira
Site Meter [Powered by Blogger]