ABRUPTO

7.1.05



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5.1.05


EARLY MORNING BLOGS 401

Crossroads


The second half of my life will be black
to the white rind of the old and fading moon.
The second half of my life will be water
over the cracked floor of these desert years.
I will land on my feet this time,
knowing at least two languages and who
my friends are. I will dress for the
occasion, and my hair shall be
whatever color I please.
Everyone will go on celebrating the old
birthday, counting the years as usual,
but I will count myself new from this
inception, this imprint of my own desire.

The second half of my life will be swift,
past leaning fenceposts, a gravel shoulder,
asphalt tickets, the beckon of open road.
The second half of my life will be wide-eyed,
fingers shifting through fine sands,
arms loose at my sides, wandering feet.
There will be new dreams every night,
and the drapes will never be closed.
I will toss my string of keys into a deep
well and old letters into the grate.

The second half of my life will be ice
breaking up on the river, rain
soaking the fields, a hand
held out, a fire,
and smoke going
upward, always up.


(Joyce Sutphen)

*

Bom dia! Até já.

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AR PURO


Levitan

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4.1.05


GRANDES NOMES: MARIA ROSA MÍSTICA

Nome dado à Virgem. Nas catacumbas o desenho de rosas simbolizava o Paraíso.

O Padre António Vieira escreveu vários sermões com este título sobre as virtudes do Rosário. O censor, Rafael Bluteau, escreveu sobre eles:

"não achando nele coisa alguma contra a nossa santa fé ou bons costumes, a censura que lhe dou é que todos – na minha opinião – se poderão queixar deste livro: os leitores, porque terão tanto que admirar que lhes faltará tempo para ler, e os escritores, porque terão tanto que observar que não lhes ficará lugar para escrever, (…) Desmente, pois, esta obra as obras da natureza, porque, sendo cada folha deste livro uma rosa, não há em todas estas rosas um espinho."

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CARTAZ DE CAMPANHA



Se Sá Carneiro fosse vivo, a sua fotografia saltaria dali mais rápido ainda do que a de Cavaco.Haja respeito pelos mortos, que já não estão cá para falar e se defender, mas sempre fizeram e escreveram o bastante para se perceber a abissal diferença. Abissal.

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GRANDES NOMES: "O ROUXINOL DO NILO"

Também conhecida como a “Senhora”, (Al-Sitt), a “Estrela do Oriente”, (Kwakab al-shark), e muitos outros nomes, Um Kulsum, a grande cantora egípcia.

Abdel Halim Hafez, outro grande cantor, também usou o nome de “Rouxinol”.


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GRANDES NOMES: "PASMO DE TRIANA"

Juan Belmonte, toureiro, conhecido como "Pasmo de Triana".
Dele se conhece este diálogo com Ramón Valle-Inclán:

" Valle-Inclán: “Es usted divino, Juan; sólo le falta morir en la plaza”.

Belmonte contestó: -Se hará lo que se pueda, Don Ramón.
"

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GRANDES NOMES: MANI DI FATA


A revista agora é anódina e provavelmente igual a muitas outras (não sou especialista). Mas lembro-me bem da velha Mani di Fata, com os suplementos dos bordados que a minha mãe fazia, em renda branco-prata sobre azul escuro, um azul parecido com as cópias a químico. Outro mundo, o das mãos de fada.

*
(...) ao ler o “post” Mani di Fata fui repentinamente assaltado por gratas recordações de saudosos tempos de infância, e senti uma grande vontade de as exteriorizar.

Apesar de ser ligeiramente mais novo, também eu me lembro bem da revista Mani di Fata. O nome era pronunciado de tal modo, pela minha mãe e amigas, que sempre me pareceu ser constituído apenas por uma única palavra - Manidifata – assim mesmo, de uma assentada só.

Lembro-me da minha avó, da irmã dela, da prima, todas na sala de costura (sim, naquele tempo havia casas com sala de costura) sentadas entre almofadas, pedaços de pano e de linhas dispersas pelo chão. E eu, descalço, sempre temerário às agulhas, por ali andava a imaginar pequenos mundos, evitando pisar território desconhecido, tendo como música de fundo as sábias palavras das fadas do lar. E adormecia ao som das cuscuvilhices sobre a vida das vizinhas da terra da minha avó, que acho que nunca conheci, mas de cuja vida sempre estive bem informado.

E havia também a Burda. Outra revista obrigatória nestes temas. Esta trazia os moldes que pemitiam fazer os modelos tal e qual se mostrava na revista. Era só seguir a linha correspondente ao número desejado, cortar as peças de pano, coser e voilá. E quem melhor para servir de cobaia do que o filho único e protegido...

Como consequência, no tempo em que o pronto a vestir se começava a impôr e numa altura em que, na escola, um jovem púbere era avaliado/aceite pelos seus pares em função do valor e da marca da indumentária, acabei por ser o alvo escolhido para testes de resistência aos variados tecidos.
(Gilberto Vasco)


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O QUE É O PSD SEM…

O que é o PSD sem nenhum dos seus líderes anteriores a Santana Lopes? Sem Rui Machete, Marcelo, Durão Barroso, Fernando Nogueira, Cavaco Silva. O que é o PSD sem nenhum dos seus ministros das Finanças dos últimos governos até ao de Santana Lopes, que era do PP? O que é o PSD sem nenhum dos seus ministros de relevo, dos Assuntos Parlamentares, da Economia (excepção para Álvaro Barreto), etc., etc. até aos governos de Santana Lopes? O que é o PSD sem nenhum dos seus lideres parlamentares até à última legislatura (com excepção de Duarte Lima)? O que é o PSD sem as suas figuras públicas que ainda conseguem falar para a universidade, para os jovens, para os empresários, para os sectores mais dinâmicos da sociedade? O que é o PSD sem os self made man que o fizeram, em vez dos assessores, dos mil e um detentores de cargos de nomeação estatal ou autárquica, sem profissão que não seja o partido?

É o PSD que jantou em Lisboa com Santana Lopes. A reportagem da Lux é elucidativa: meia dúzia de actores, respeitáveis é certo, mas a milhas do que é o teatro de hoje, artistas de variedades, socialites, fadistas… Eu sei que muitos militantes lá estiveram com dedicação ao seu partido e a Portugal. Mas deviam olhar à volta e pensar como é que se chegou aqui, que tipo de selecção está a ser feita.

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AR PURO


Levitan

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INTENDÊNCIA

A versão 2.0 do BOAS / PÉSSIMAS COISAS NO JORNALISMO PORTUGUÊS EM 2004 terá que esperar um pouco mais, dada a abundância dos contributos recebidos e alguns pesos e medidas a ter em conta.

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GRANDES NOMES: DINAMITE CEREBRAL

Nome de um grupo anarquista dos anos vinte (?) do século XX.

GRANDES NOMES

Em breve Edelweiss, Mani di Fata, Heno de Pravia e outros.

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GRANDES NOMES: MENINA E MOÇA

"Menina e moça me levaram de casa de minha mãe para muito longe. Que causa fosse então a daquela minha levada, era ainda pequena, não a soube. Agora não lhe ponho outra, senão que parece que já então havia de ser o que depois foi. Vivi ali tanto tempo quanto foi necessário para não poder viver em outra parte. Muito contente fui em aquela terra, mas, coitada de mim, que em breve espaço se mudou tudo aquilo que em longo tempo se buscou e para longo tempo se buscava. Grande desaventura foi a que me fez ser triste ou, per aventura, a que me fez ser leda. Depois que eu vi tantas cousas trocadas por outras, e o prazer feito mágoa maior, a tanta tristeza cheguei que mais me pesava do bem que tive, que do mal que tinha."

Bernardim (outro grande nome) Ribeiro

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GRANDES NOMES: O HORTO DO ESPOSO


Códice alcobacense de autoria anónima, de finais do século XIV, ou dos primeiros anos do século XV. Nele se escreve: «Uaydade de uaydades, e todallas cousas som uaydades».

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GRANDES NOMES: MENINO JESUS DA CARTOLINHA


Um resto de antigas guerras em Miranda do Douro.


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EARLY MORNING BLOGS 400

New Eyes Each Year


New eyes each year
Find old books here,
And new books,too,
Old eyes renew;
So youth and age
Like ink and page
In this house join,
Minting new coin.


(Philip Larkin)

*

Bom dia!

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3.1.05


COISAS SIMPLES


James Craig Annan

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: O RELAXAR DOS TIGRES

"Diz ele (quatro anos e meio): Mãe, os tigres sobem para as árvores?

Eu, insegura dos comportamentos dos tigres, mas segura de que não queria nem uma longa conversa, nem defraudar expectativas, digo: Sobem, pois.

Diz ele: É para dormir não é?

Eu (sem olhar nem dar importância): Claro que é!

Diz ele: E para relaxar…

(escusado será dizer que toda uma nova perspectiva sobre o comportamento dos animais selvagens se abriu para mim com a introdução do “relaxamento” no seu reino)."

(J.)

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GRANDES NOMES: JAMAIS DE LA VIE

O nome do perfume de Justine no Quarteto de Alexandria.
(Não há nenhum perfume com este nome… só um baton da Lancôme.)

GRANDES NOMES: PRÍNCIPE NEGRO

Príncipe Eduardo de Inglaterra , conhecido como o “Príncipe Negro”(1330-1376), talvez pela cor da armadura.

GRANDES NOMES: O ANACORETA DO AR

Nome que o Padre António Vieira dá a Simeão Estilita, "a quem com razão podemos chamar Anacoreta do Ar, e não da terra. Vivia sobre uma coluna de trinta e cinco côvados de alto, onde perseverou oitenta anos ao sol, ao frio, à neve, aos ventos, comendo uma só vez na semana, e orando de dia e de noite, quase sem dormir."

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INTENDÊNCIA

Coloquei no VERITAS FILIA TEMPORIS os dois artigos que publiquei em Março de 2002 sobre a campanha eleitoral do Porto ocorrida nessa altura. À luz das escolhas que estão a ser feitas na lista do PSD no Porto, e das atitudes recentes de Pinto da Costa, penso que é mais que útil lembrar o que aconteceu nessa já completamente esquecida campanha de há quase três anos.

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À ESPERA


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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: O "TSUNAMISMO"

"Tenho escrito para não sei quantos órgãos de comunicação social a recordar que não há motivo nenhum para abandonar a expressão Portuguesa “Maremoto” em favor da Japonesa “Tsunami”. Maremoto é aliás uma excelente palavra de fácil dicção e cujo sentido é fácil de apreender dada a proximidade a “terramoto”.

No noticiário de 1 de Janeiro da Rádio Renascença chegou-se ao cúmulo de noticiar o desastre ocorrido no Índico usando indistintamente “Tsunami” e “Maremoto“, como se a língua Portuguesa fosse, para a comunicação social nacional, de uso voluntário. A seguir passou a gravação do Papa a dar a mensagem de ano novo em língua Portuguesa: para este Polaco é importante falar Português quando se dirige aos lusófonos.

O “Tsunamismo” é mais irritante no serviço público. Para a RTP é absolutamente indiferente usar uma expressão ou outra."

(Manuel Pinheiro)

*

"(...) maremoto e tsunami são de facto termos distintos e cuja distinção, hoje mais do que nunca atendendo ao frenesim circense mediático a que se assiste, importa enfatizar. A palavra maremoto, desde que se ensinam ciências naturais no 7º ano de escolaridade, concretamente a área de conhecimento da geologia, é o termo utilizado para designar um sismo com epicentro no mar. Já a palavra tsunami, sem que se faça uso da analogia japonesa sobejamente conhecida pelos dias que correm e que, por economia de tempo e palavras, não vale agora a pena recordar, é o termo utilizado para designar a onda que se gera como resultado de deslocamentos do fundo oceânico em resposta a rupturas associadas a fenómenos de deslocamento das placas litosférias, rupturas essas frequentes quando num contexto geotectónico de bordo de placas como aquele que se verifica na zona do epicentro desse sismo. Assim, dependendo da energia libertada pelo sismo e o consequente deslocamento e ou ruptura associada, um maremoto pode ou não provocar um tsunami. Eu deixaria antes a minha crítica à comunicação social pela forma distinta, umas vezes, e indistinta, outras vezes, como utilizou este termo, convidando engenheiros de estruturas em lugar de geólogos a explicar um fenómeno eminentemente geológico e explorando a catástrofe em lugar de explorar a necessidade de medidas preventivas no nosso país contra fenómenos parecidos, como de resto tem vindo a ser seu apanágio nos últimos anos… Mas tudo vai bem, temos já o Sporting-Benfica no próximo sábado pelo que dessa forma, ainda que de forma lamentável, deverá abrandar o chorrilho de lugares comuns e erros científicos que qualquer puto do 7º ano será capaz de apontar aos senhores da comunicação social, que falam de futebol e ciência como se fossem licenciados em ambas as áreas… É verdade, nós no nosso país, como na Inglaterra e outros países de vanguarda, tanto quanto me é dado a perceber pelos programas do ensino público, também ensinamos o que são tsunamis e sismos, e que até são sentidos ás dezenas todos os dias, vá-se lá saber…"

(Luís Macedo)

*

"A expressão portuguesa "Maremoto" é, de facto, fácil de apreender e ilustra o ocorrido na perfeição (embora, pessoalmente, prefira a expressão "Tsunami"). O problema é que, a maioria dos jornalistas portugueses com cargos de responsabilidade, são da minha geração. A mesma geração que aprendeu nos livros da escola secundária, que um maremoto era um terramoto numa zona banhada por um oceano... E nunca se fez o devido paralelo com a expressão "Tsunami". Daí que, para muito boa gente, um maremoto é um terramoto em superficie oceânica, e um Tsunami é uma consequência desse maremoto. E não há quem clarifique de uma vez por todas, esta questão nas redações da imprensa portuguesa."

(Daniel Rodrigues)

*

"Não colocando o mesmo empenho na defesa da língua que o manifestado pelo leitor Manuel Pinheiro (a mim não me repugna que o Japão contribua para o enriquecimento do português com a palavra tsunami), acrescento outra expressão sinónima para designar o fenómeno em causa: raz de maré."

(António Cardoso da Conceição)

*

"Não sendo eu um linguista (estou mesmo muito longe) permita-me, ainda assim, a seguinte opinião quanto à utilização, considerada desnecessária por parte do Sr. Manuel Pinheiro, da palavra tsunami. Da minha formação científica aquilo que retive é que maremoto significa sismo sob o oceano, enquanto tsunami é a onda consequente. Daqui se retira a utilidade para a nossa língua de dois termos distintos."

(Pedro Barros)

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UMA CONVERSA OUVIDA: ARQUEOLOGIA

Ela disse: “este livro custou-me quinhentos paus, para aí

Ele disse: “daqui a uns anos vão ter que fazer uma nota de rodapé se continuas a falar assim…

“Porquê?”

“Porque isso dos “paus” vai desaparecer. Não estás a ver os euros ficarem assim…plebeus.”

“Estás-me a chamar nomes?”

“Estou, mas a culpa é dos euros.”


*

"Pouco depois da entrada em circulação (física) do Euro o meu filho tentou cravar-me "vinte europaus". A coisa teve piada mas nem a expressão pegou nem ele levou o dinheiro. Uma possível explicação para a dupla negativa reside no casamento gritantemente contranatura entre o nosso calão e a higienizada linguagem de Bruxelas, ou como se tivesse sido criada uma aberração linguística."

(af)

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INTENDÊNCIA

No Portal do Astrónomo escrevi sobre Um Mar Diferente.

A versão 2.0 de BOAS / PÉSSIMAS COISAS NO JORNALISMO PORTUGUÊS EM 2004, com as sugestões recebidas dos leitores será colocada em linha no final do dia.

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COISAS SIMPLES


Boucher

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EARLY MORNING BLOGS 399

Welcome


if you believe nothing is always what's left
after a while, as I did,
If you believe you have this collection
of ungiven gifts, as I do (right here
behind the silence and the averted eyes)
If you believe an afternoon can collapse
into strange privacies-
how in your backyard, for example,
the shyness of flowers can be suddenly
overwhelming, and in the distance
the clear goddamn of thunder
personal, like a voice,
If you believe there's no correct response
to death, as I do; that even in grief
(where I've sat making plans)
there are small corners of joy
If your body sometimes is a light switch
in a house of insomniacs
If you can feel yourself straining
to be yourself every waking minute
If, as I am, you are almost smiling . . .


(Stephen Dunn)

*

Bom dia!

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STIFF / NÃO STIFF

Faz sempre bem ver uma grande e pomposa orquestra como a de Viena, oriunda de uma das terras mais sofisticadas da Europa, a fazer a rábula de cantar os “lá-lá” da Polka dos Camponeses de Strauss como uma banda de aldeia que perdeu o controle com a força da música… Mas é. Mesmo ensaiada, é a força da música, a única maneira de gerar alegria do nada.A única tecnologia não química da alegria.

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: A BUSCA DE SANTIDADE

"Se os textos de Padre António Vieira sobre “docilidade”, “desejar ser”, e o de hoje “Miguel e Lúcifer” são tocantes porque encerram em si muito do que (para mim) é a mais profunda e simples sabedoria do catolicismo - que levado às últimas consequências se encontra em casos como a Madre Teresa de Calcutá, que não dá lugar a grande indiferença da nossa parte, (já o “anacoreta do ar” é delírio puro, ou alegoria com muita forma e pouca essência).

O que me faz confusão é a leitura política subjacente aos textos, dadas as características do Blogue, do seu autor e da situação política peculiar em que nos encontramos, que motivam a escolha destes textos. São textos que encerram uma sabedoria demasiado preciosa para se agarrarem tanto ao momento, a este tempo e a este espaço. Eles querem liberdade e não peias ou lanternas que apontem direcções. No Abrupto dificilmente os conseguimos ler como deveriam ser lidos…

Ou será que estou completamente enganada e é uma genuína vontade de busca de santidade que move o autor do Abrupto?"

(J.)

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2.1.05


APRENDENDO COM O PADRE ANTÓNIO VIEIRA: A DIFERENÇA ENTRE MIGUEL E LUCIFER

"De sorte que a principal diferença que então houve e hoje há entre Miguel e Lúcifer, é que Miguel chama-se S. Miguel, e Lúcifer não se chama santo. Direis que também foi privado Lúcifer da glória e da vista de Deus. Não foi, porque essa ainda a não tinha, que se já tivera visto a Deus não o pudera ofender nem perder a graça e santidade. Mas, assim como Deus o privou da graça e da santidade, por que o não privou também de tudo o mais? Quando um vassalo se rebela contra seu rei, confiscam-lhe todos seus bens. Pois, se Lúcifer se rebelou contra Deus, por que lhe confiscam só a graça e a santidade, e lhe deixam tudo o mais? Porque só a graça e a santidade são bens: tudo o mais que têm os anjos maus, uma vez que não têm santidade, antes são males que bens. A ciência, sem santidade, é ignorância; a formosura, sem santidade, é fealdade; o poder, sem santidade, é fraqueza; a grandeza, sem santidade, é miséria; e por isso são os anjos maus os mais miseráveis de todas as criaturas, assim como os anjos bons os mais felizes e bem-aventurados de todas: estes porque são santos, aqueles porque não são santos."

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OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: UMA PEDRA DE SOMBRA



A lua de Saturno Iapetus entra pela esquerda baixa, o lugar da surpresa no teatro. Vem devagar e em silêncio. Traz augúrios.

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FAMÍLIA

Isto de famílias antigas é, de um modo geral, complicado. É verdade que o tempo depois se encarrega de simplificar. No caso dos Pachecos, e do seu ramo os Pachecos do Porto, os Pacheco Pereira, o grande simplificador foram trinta anos de usura, hipotecas, desvarios múltiplos, grandeur sem cash, só terras e quintas e foros e laudémios, parentela diversa, heranças complexas, zangas épicas, e uma singular incapacidade dos Pachecos, pelo menos aqueles cuja memória ainda vivia nos que conheci (incluindo os que conheci) para qualquer coisa que fosse negócio ou sequer ganhar dinheiro. Vagabundos pelo mundo todo, boémios, pintores, bibliófilos, freiras, há de tudo, personagens de um mundo que, entre as últimas décadas do século XIX e os primeiros cinquenta anos do século XX, mudou demais e eles, dobrados ao peso de oitocentos anos de memórias reais e fictícias, mudavam cada vez menos. Dava um romance, cheio de figuras únicas.

Uma delas presidiu e preside à “sala de visitas” familiar, Duarte Pacheco Pereira, ao lado de um outro Pacheco bispo “in partibus infidelium”. Nunca me passou pela cabeça que o valoroso “Aquiles lusitano” fosse uma pessoa frequentável, até que, há dias, me chegou um Na Crista da Onda escrito pela Ana Maria Magalhães e pela Isabel Alçada, com ilustrações de Pedro Cabral Gonçalves e Clara Vilar, sobre o dito. Pude então ver o façanhudo, que eu conhecia vestido de ferro e com a grande espada, a ler em pequeno… a ler. E depois, num acto politicamente incorrectíssimo, a bater num mouro, já couraçado para a "guerra de civilizações". Por fim, a escrever o Esmeraldo de Situ Orbis, um bocado gaguejante para meu gosto. Está pois, o mistério do “Esmeraldo” resolvido.

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COISAS SIMPLES: FLORA


Jean-Antoine Watteau

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EARLY MORNING BLOGS 398

Wallace Stevens On His Way To Work


He would leave early and walk slowly
As if balancing books
On the way to school, already expecting
To be tardy once again and heavy
With numbers, the unfashionably rounded
Toes of his shoes invisible beyond
The slope of his corporation. He would pause
At his favorite fundamentally sound
Park bench, which had been the birthplace
Of paeans and ruminations on other mornings,
And would turn his back to it, having gauged the distance
Between his knees and the edge of the hardwood
Almost invariably unoccupied
At this enlightened hour by the bums of nighttime
(For whom the owlish eye of the moon
Had been closed by daylight), and would give himself wholly over
Backwards and trustingly downwards
And be well seated there. He would remove
From his sinister jacket pocket a postcard
And touch it and retouch it with the point
Of the fountain he produced at his fingertips
And fill it with his never-before-uttered
Runes and obbligatos and pellucidly cryptic
Duets from private pageants, from broken ends
Of fandangos with the amoeba chaos chaos
Couchant and rampant. Then he would rise
With an effort as heartfelt as a decision
To get out of bed on Sunday and carefully
Relocate his center of gravity
Above and beyond an imaginary axis
Between his feet and carry the good news
Along the path and the sidewalk, well on his way
To readjusting the business of the earth.


(David Wagoner)

*

Bom ano! Bom dia!

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1.1.05


LENHA


Madeira a arder. Lenha. Um tronco de oliveira que arde por dentro, crepitando no ar frio, que arde sempre até desaparecer num monte de cinza. Lenha, feita de velhas traves de madeira de uma casa. Nas cinzas aparecem pregos antigos. Há quantos anos foram pregados? Por volta de mil oitocentos e noventa e três. Mais de cem anos dentro da madeira rija. Ferro quase sem ferrugem. Grosso, rugoso ao tacto. Traços negros no interior do vermelho vivo, quando a madeira fica quase transparente, antes do momento da desagregação em que se torna em brasas e depois em cinzas. Por fim, os pregos tombam no chão. Não há estrutura. Acabou.

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES


Uma praia, ontem, ao fim do dia.

(R.)

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APRENDENDO COM O PADRE ANTÓNIO VIEIRA: O ANACORETA DO AR

"De alguns se escreve que de noite mediam as horas da oração com um novo e admirável relógio do sol, porque começavam a orar quando se punha, e acabavam quando nascia. Mais fazia Simeão Estilita, a quem com razão podemos chamar Anacoreta do Ar, e não da terra. Vivia sobre uma coluna de trinta e cinco côvados de alto, onde perseverou oitenta anos ao sol, ao frio, à neve, aos ventos, comendo uma só vez na semana, e orando de dia e de noite, quase sem dormir. Umas vezes orava de joelhos e prostrado, outras em pé e com os braços abertos, e nesta postura estava reverenciando continuamente a Deus com tão profundas inclinações, que dobrava a cabeça até os artelhos. Teodoreto, testemunha de vista, quis saber o número a estas inclinações, e tendo contado mil duzentas e quarenta e quatro, cansado de contar, não foi por diante. Oh! assombro! Oh! prodígio! Oh! exemplo singularíssimo do que pode a fraqueza do nosso barro fortalecida da graça! Um tal gênero de vida, mais foi admirável que imitável. Mas o que mais admira, é que lhe não faltaram imitadores. Estilita quer dizer o habitador da coluna, e houve outro estilita, também Simeão, e outro estilita, Daniel, e outros. Tanto preço tem, nos que o sabem avaliar, o ser santo. "

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© José Pacheco Pereira
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