ABRUPTO

7.9.04


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: VEM AÍ O SOL

Façam figas, torçam os dedos, peçam a santos e deuses especializados no espaço, Stª Bárbara por exemplo, para que corra bem, amanhã, a chegada de um bocado do Sol que nos alumia.

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SINAIS

- Fui e sou crítico de muitos aspectos do debate político-ideológico no seio do PS, particularmente quando ele se faz à volta das vacuidades abstractas que são hoje o “pensamento da esquerda”. Porém, já me interessam as questões de condução política concreta de um partido tão importante como o PS. Daí que o debate de ontem dos candidatos a secretários-gerais do PS, de que vi excertos na televisão, é positivo, porque clarifica junto de todos os portugueses diferenças de condução política que são significativas.


- O governo até hoje praticamente não governou, o que é, entre outras coisas, uma resultante da massa crítica de ministros e secretários de estado que não sabem nada das suas pastas. Porém, se se verificar que a nova Lei do Arrendamento muda – e essa mudança é a reaparição do mercado de arrendamento nas cidades, o único critério pelo qual se pode medir o alcance da lei para não ser cosmética – isso é mérito do governo que tomou uma medida necessária e corajosa. Se.

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AR PURO


Gerhard Richter

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: VARIAÇÕES SOBRE A LAGARTIXA E O JACARÉ

" No que se refere ao provérbio «Quem nasceu para lagartixa nunca chega a jacaré» (com o qual eu embirro por sugerir predestinação), aproveito para fazer notar que o Rifoneiro Português, de Pedro Chaves, não lhe faz referência mas menciona diversas variantes, entre as quais:

- Quem nasceu para burro, nunca chega a cavalo.

- Quem nasceu para dez réis, não chega a vintém.

- Quem nasceu para porco, nunca chega a porqueiro.
"

(José Carlos Santos)


*

"Deveras interessante o seu comentário sobre o provérbio “Quem nasceu para lagartixa……etc”. Com o qual, a seguir, estabelece analogia com algumas variantes do Rifoneiro Português de Pedro Chaves. Em que, inevitavelmente, é associada a lagartixa ao “burro”, a “dez reis” e ao “porco”. E em que o jacaré é, também inevitavelmente, associado ao cavalo, ao vintém e ao porqueiro. Acontece que a lagartixa é muito mais inteligente, digna, simpática, benfazeja, pacífica (e, portanto, globalmente, mais civilizada) que o jacaré.

Mas, pelos vistos, o Sr. Dr. J.P.P. parece preferir, dadas as suas analogias, o jacaré. Pronto. Está no seu direito. Ainda bem que avisa.
"

(Nuno Calvet)

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EARLY MORNING BLOGS 304

Canto XLV


With usura hath no man a house of good stone
each block cut smooth and well fitting
that design might cover their face,

with usura

hath no man a painted paradise on his church wall
harpes et luthes
or where virgin receiveth message
and halo projects from incision,

with usura

seeth no man Gonzaga his heirs and his concubines
no picture is made to endure nor to live with
but it is made to sell and sell quickly

with usura, sin against nature,
is thy bread ever more of stale rags
is thy bread dry as paper,
with no mountain wheat, no strong flour

with usura the line grows thick

with usura is no clear demarcation
and no man can find site for his dwelling
Stone cutter is kept from his stone
weaver is kept from his loom

WITH USURA

wool comes not to market
sheep bringeth no grain with usura
Usura is a murrain, usura
blunteth the needle in the the maid's hand
and stoppeth the spinner's cunning. Pietro Lombardo
came not by usura
Duccio came not by usura
nor Pier della Francesca; Zuan Bellin' not by usura
nor was "La Callunia" painted.
Came not by usura Angelico; came not Ambrogio Praedis,
Came no church of cut stone signed: Adamo me fecit.

Not by usura St. Trophime

Not by usura St. Hilaire,

Usura rusteth the chisel
It rusteth the craft and the craftsman
It gnaweth the thread in the loom
None learneth to weave gold in her pattern;
Azure hath a canker by usura; cramoisi is unbroidered
Emerald findeth no Memling

Usura slayeth the child in the womb
It stayeth the young man's courting
It hath brought palsey to bed, lyeth
between the young bride and her bridegroom

CONTRA NATURAM

They have brought whores for Eleusis
Corpses are set to banquet

at behest of usura.


(Ezra Pound)

*

Bom dia!

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6.9.04


APRENDENDO COM D. FREI BARTOLOMEU DOS MÁRTIRES: "EU VIGIO O GADO, ELE ME VIGIA A MIM: MAIS VALE SOFRER A CHUVA..."

"Era fim de Janeiro, tempo ventoso e frigidíssimo. Deixou o abrigo e chaminés dos seus paços, foi-se experimentar os maus caminhos e piores gasalhados das aldeias... Mas queixavam-se os seus que não podiam aturar a continuação do trabalho, dos caminhos, das invernadas; ele só, com trabalhar mais que todos; sofria desassombradamente todas as incomodidades; e nos caminhos, por fragosos e ásperos que fossem, era o primeiro que os acometia, pondo-se na dianteira.

Passavam um dia de um lugar para outro. Salteou-os uma chuva fria e importuna, que os não largou na maior parte da jornada; e corria um vento agudo e desabrigado, que os congelava. Tinha-se adiantado o Arcebispo, segundo seu costume, que era caminhar quase sempre só pera se ocupar com mais liberdade em suas contemplações; e ia fazendo matéria de tudo quanto via no campo e na serra, para louvar a Deus.

Ofereceu-se-lhe à vista, não longe do caminho, posto sobre um penedo alto e descoberto ao vento e à chuva, um menino pobre e bem mal reparado de roupa, que vigiava umas ovelhinhas que ao longe andavam pastando. Notou o Arcebispo a estância, o tempo, a idade, o vestido, a paciência do pobrezinho: e viu juntamente que ao pé do penedo se abria uma lapa, que podia ser bastante abrigo para o tempo. Movido de piedade, parou, chamou-o, e disse-lhe que se descesse abaixo pera a lapa e fugisse da chuva, pois não tinha roupa bastante pera a esperar.

– Isso não! – respondeu o pastorinho, – que, em deixando de estar alerta e com o olho aberto, vem logo o lobo e leva-me a ovelha, ou vem a raposa e mama-me o cordeiro!

– E que vai nisso? – disse o Arcebispo.

– A mi me vai muito – tornou ele, – que tenho pai em casa, que pelejará comigo, e tão bom dia se não forem mais que brados. Eu vigio o gado, ele me vigia a mim: mais vale sofrer a chuva...

Não quis o Arcebispo dar mais passo. Esperou que chegassem os da sua companhia, contou-lhes o que se passara com o menino e acrecentou:

– Este esfarrapadinho inocente ensina a Frei Bartolomeu a ser Arcebispo! Este me avisa que não deixe de acudir e visitar minhas ovelhas, por mais tempestades que fulmine o céu; que, se este, com tão pouco remédio pera as passar, todavia não foge delas, respeitando o mandado do pai mais que o descanso, que razão poderei eu dar, se, por medo de adoecer ou padecer um pouco de frio, desemparar as ovelhas cujo cuidado e vigia Cristo fiou de mim, quando me fez pastor delas?"


(Frei Luis de Sousa)

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POEIRA DE 6 DE SETEMBRO

Hoje, há sessenta e cinco anos, a guerra começava para Virginia Woolf, a primeira vez que ouvia as sirenes a anunciar um ataque aéreo. Virginia estava em baixo: não lhe apetecia ler nem escrever, e os jornais “não valia a pena lê-los porque a BBC dava as notícias com um dia de antecedência”. Tinha que ir a Londres a 7 e estava com medo. “I a coward? Physically I expect I am.

Shall I walk? Yes. It's the gnats and flies that settle on non-combat. This war has begun in cold blood. One merely feels that the killing machine has to be set in action.

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A LER

a Desesperada Esperança na sua nova casa.com.

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: SUN CITY

"Quando vi Sun City senti emoção, afinal gostava mais daquilo do que pensava. É como Joanesburgo, um lugar que muita gente considera horrível mas de que eu gosto. Lugares de dinheiro, competitivos, acelerados, energéticos, sem tempo ou consideração para com o próximo... a lei da selva. É bom quando se aprende a viver com a lei da selva, é o maior desafio."

(MCP)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: OUTONO

"A mais suave, pacata e mole das estações, o Outono, suplanta a anterior e instala-se com sobressaltos medrosos, temporais enormes, manhãs escuras, turbilhões e massacres de folhas que fazem compreender quanta violência custa a maturidade."

Cesare Pavese, in O Ofício de Viver (cortesia de RM)


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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: VENDER FUTEBOL

"Hoje, ao revisitar a velha amiga Mafalda, encontrei esta vinheta que liguei directamente às suas palavras [na Sabado].



Não é só a televisão a vender futebol como se fossem essas as grandes questões do mundo. Se bem me recordo, os grandes diários de referência, Público e DN, por alturas do Euro-2004 dedicavam a capa e a primeira dezena de páginas aos jogos e à espuma envolvente a eles.

Os Ingleses e Irlandeses são grandes apreciadores de futebol, como é sabido, mas não têm jornais desportivos. Falando sobre essa questão com um Irlandês, ele olhou-me com espanto e perguntou: "jornais só de desporto? E há pessoas que compram jornais assim?" Respondi afirmativamente, mas preferi omitir que são precisamente esses os jornais que mais se vendem por cá.

Será só responsabilidade dos meios de comunicação ou nós temos que assumir a nossa quota de responsabilidade? Não seremos, enfim, um pouco como o pai da Mafalda? Será que não procuramos na televisão, mesmo nos programas de informação, uma evasão aos problemas reais do mundo? É muito mais fácil comovermo-nos com tragédias de estrada ou de pobreza do que tentar compreender os verdadeiros contornos do perigo do terrorismo, por exemplo. E é muito mais fácil discutir futebol (um assunto universal e que todos julgam perceber) do que economia, política ou direito.

E, da mesma forma, é mais fácil para os jornalistas o tratamento de temas emocionais. Os temas reais, como a política, as finanças, a defesa nacional e a segurança mundial (tal como a cultura, quase sempre ausente dos espaços informativos), exigem uma longa e árdua preparação, muitas vezes uma especialização, que a maioria dos jornalistas não quer ou não tem condições para adquirir. E estes temas não são realidades a preto e branco. Os temas emocionais são sempre vistos assim: há vítimas e culpados; há bons e maus; há ricos e pobres (no futebol os bons e os maus são definidos pelo espectador, consoante a cor do seu clube). Ou seja, são fáceis de tratar e transmitir pois não têm a complexidade e as tonalidades de cinza da vida real."

(Paulo Agostinho)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: O "VASTAMA"

"John Kerry: ontem estava ele na televisão quando apareceu o meu filho que disse “quem é mãe? Parece um vastama (é assim que ele diz fantasma, e como adoro quando ele, e a irmã também era assim, diz destas asneiras eu não corrijo contrariando a sabedoria dos especialistas; penso sempre que têm toda a vida para dizer fantasma e “vastama” durará muito pouco!). Mas ele tem razão: sempre achei que havia qualquer coisa de errado com Kerry e já não era só alguns disparates que disse e diz, é mesmo algo de errado com ele enquanto pessoa e acho que ele tem mesmo algo de fantasmagórico."

(J.)

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AR PURO


Alfons Walde

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EARLY MORNING BLOGS 303

Canción del pirata

Con diez cañones por banda,
viento en popa, a toda vela,
no corta el mar, sino vuela
un velero bergantín.
Bajel pirata que llaman,
por su bravura, el Temido,
en todo mar conocido
del uno al otro confín.

La luna en el mar rïela,
en la lona gime el viento,
y alza en blando movimiento
olas de plata y azul;
y ve el capitán pirata,
cantando alegre en la popa,
Asia a un lado, al otro Europa,
y allá a su frente Stambul:

«Navega, velero mío,
sin temor,
que ni enemigo navío
ni tormenta, ni bonanza
tu rumbo a torcer alcanza,
ni a sujetar tu valor.

Veinte presas
hemos hecho
a despecho
del inglés,
y han rendido
sus pendones
cien naciones
a mis pies.

Que es mi barco mi tesoro,
que es mi dios la libertad,
mi ley, la fuerza y el viento,
mi única patria, la mar.

Allá muevan feroz guerra
ciegos reyes
por un palmo más de tierra;
que yo aquí tengo por mío
cuanto abarca el mar bravío,
a quien nadie impuso leyes.

Y no hay playa,
sea cualquiera,
ni bandera
de esplendor,
que no sienta
mi derecho
y dé pecho
a mi valor.

Que es mi barco mi tesoro,
que es mi dios la libertad,
mi ley, la fuerza y el viento,
mi única patria, la mar.

A la voz de «¡barco viene!»
es de ver
cómo vira y se previene
a todo trapo a escapar;
que yo soy el rey del mar,
y mi furia es de temer.

En las presas
yo divido
lo cogido
por igual;
sólo quiero
por riqueza
la belleza
sin rival.

Que es mi barco mi tesoro,
que es mi dios la libertad,
mi ley, la fuerza y el viento,
mi única patria, la mar.

¡Sentenciado estoy a muerte!
Yo me río;
no me abandone la suerte,
y al mismo que me condena,
colgaré de alguna entena,
quizá en su propio navío.

Y si caigo,
¿qué es la vida?
Por perdida
ya la di,
cuando el yugo
del esclavo,
como un bravo,
sacudí.

Que es mi barco mi tesoro,
que es mi dios la libertad,
mi ley, la fuerza y el viento,
mi única patria, la mar.

Son mi música mejor
aquilones,
el estrépito y temblor
de los cables sacudidos,
del negro mar los bramidos
y el rugir de mis cañones.

Y del trueno
al son violento,
y del viento
al rebramar,
yo me duermo
sosegado,
arrullado
por el mar.

Que es mi barco mi tesoro,
que es mi dios la libertad,
mi ley, la fuerza y el viento,
mi única patria, la mar.»


(José de Espronceda)

*

Bom dia!

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5.9.04


JOGANDO HOJE XADREZ

Alguém se lembrou do "Ajedrez"

En su grave rincón, los jugadores
Rigen las lentas piezas. El tablero
Los demora hasta el alba en su severo
Ambito en que se odiam dos colores

Adentro irradiam mágicos rigores
Las formas: torre homérica, ligeiro
Caballo, armada reina, rey postrero,
Oblicuo alfil y peones agressores.

Cuando los jugadores se hayan ido,
Cuando el tiempo los haya consumido,
Certamente no habrá cessado el rito.

En el Oriente se encendio esta guerra
Cuyo anfiteatro es hoy toda la tierra.
Como el outro, este juego es infinito.


(Jorge Luis Borges)

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POEIRA DE 5 DE SETEMBRO / BIBLIOFILIA

Hoje, há quarenta e sete anos, era publicado On the Road de Jack Kerouac, que se chamava aliás Jean-Louis Lebris de Kerouac e crescera a falar um dialecto do francês canadiano, o joual. O livro fora escrito de um modo muito especial: um longo rolo de folhas de papel coladas umas às outras – como as folhas de um blogue que estivesse exposto num ecrã gigantesco e no qual nunca houvesse esquecimento. Estava mal escrito do ponto de vista dos escritores perfeccionistas, por corrigir, por rever, embora Kerouac estivesse a trabalhar no texto desde 1950.

Olhando para cima, Kerouac escreveu: "My witness is the empty sky." Olhando para o lado: “Houses are full of things that gather dust."

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A LER

A nota IMPROVISAÇÃO ORGANIZADA no Portugal dos Pequeninos.

O António Reis , sobre o cineasta, um exemplo de blogue que acrescenta.

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PRIMEIRO NOS SELOS, DEPOIS NUM PAÍS DE FILME DE AVENTURAS

O Bophuthatswana era o bantustão dos casinos, onde os sul africanos brancos podiam ir pagar o imposto do pecado. Ia-se de carro, passando-se pelas terras da platina, parando-se nas lojas sempre abertas e sempre de portugueses, entrando e saindo ficcionalmente da República da África do Sul, porque o “independente” Bophuthatswana era uma manta de retalhos geográfica das más terras da região. Tinha golpes de estado e um ditador local Mangope, cuja fotografia estava dependurada nas entradas dos hotéis de Sun City. Foi o bantustão que mais resistiu ao fim da sua nominal independência. Os crocodilos dos selos não entravam nas salas de jogo, pelo menos na sua encarnação de réptil decente.


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APRENDENDO COM O PADRE MANUEL BERNARDES: TRÊS PÁTRIAS

"Qualquer homem tem três pátrias: uma da origem, outra da natureza e outra do direito. A pátria da origem é aquela em que os nossos maiores foram e viveram; a da natureza é a terra ou lugar onde cada um nasce; a do direito é onde cada um é naturalizado pelas leis ou príncipes, e onde serve, e merece, e costuma habitar: neste sentido disse Túlio de Catão que tivera a Túsculo por pátria da natureza, mas a Roma por pátria do direito.

Quanto à pátria da origem, todos os homens somos do Céu, porque ali está, vive e reina o nosso pai celestial, que vai criando as almas e unindo-as a nossos corpos.

Quanto à segunda pátria, falando geralmente, todos homens somos da Terra; por isso dela falamos tão frequentemente. Neste sentido todos os filhos de Adão somos compatriotas, sem diferença do rei ao rústico. Neste sentido, também, os que desejavam negar as imperfeições do amor a tal ou a tal terra em particular, ou por arrogância e fasto filosófico ou por mortificação religiosa e santa, disseram que todo o mundo era pátria sua. Do primeiro temos exemplo em Sócrates, que, perguntado donde era, respondeu:

– Do mundo: porque de todo o mundo sou cidadão e habitador.

E em Séneca, que disse:

– Não encerramos a grandeza do ânimo nos muros de uma cidade, antes o deixamos livre para o comércio de todo o mundo, porque esta é a pátria que professamos, para darmos campo mais largo à virtude.

Do segundo temos exemplo em S. Basílio, que, ameaçado com desterro pelo prefeito do imperador Valente, respondeu que não conhecia desterro quem não estava adicto a certos lugares.

Semelhante resposta foi a do v. p. frei António das Chagas, que, avisado por certa pessoa não falasse tão acremente nos sermões da morte, porque se arriscava a ser desterrado, disse mui seguramente:

– Desterrar-me? Para onde? Quem não tem aqui pátria não pode ter daqui desterro.

Mas, além desta pátria do lugar comum, há outra do particular, que é a terra onde cada um nasceu. Quanto esta é mais pequena, tanto une mais os seus filhos, de sorte que parece o mesmo ser compatriotas que parentes, especialmente quando se acham fora dela. E parece-se este amor com a virtude da erva tápsia, da qual escreve Teofrasto que, metida na panela com a carne a cozer, de tal modo conglutina os pedaços dela que, para os tirar, é necessário quebrá-la. Quanto, porém, a pátria é terra mais populosa, rica e ilustre, tanto costuma ser matéria de vaidade aos que põem a sua glória fora de si. Assim se esvaneciam os Arianos da sua Constantinopla, lançando em rosto a S. Gregório Nazianzeno a sua terrinha, que nem muros a cingiam. Porém o santo doutor lhes respondeu que, se isso era culpa nele, também o seria no golfinho não haver nascido na terra, e no boi não haver nascido mo mar. E, pelo contrário, se neles era glória, também o seria para os jumentos da cidade assoberbarem os do campo.

Quanto à terceira pátria, é esta o lugar onde estamos naturalizados, por mercê da república, ou rescrito dos príncipes, ou habitação continua, de modo que Sto. António se chama de Pádua, não sendo senão de Lisboa, e S. Nicolau de Tolentino, sendo de Saint-Angel. Tomando, porém, isto espiritualmente, onde cada um habita com o espírito e desejo, daí é natural. Por isso, Cristo disse a seus adversários que eles eram cá de baixo: Vos deorsum estis... vos de mundo hoc estis. E, pelo contrário, a seus discípulos, que eles não eram deste mundo: De mundo non estis.
"

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AR PURO


Apolinariy Vasnetsov

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EARLY MORNING BLOGS 302

Landscape With The Fall Of Icarus

According to Brueghel
when Icarus fell
it was spring

a farmer was ploughing
his field
the whole pageantry

of the year was
awake tingling
near

the edge of the sea
concerned
with itself

sweating in the sun
that melted
the wings' wax

unsignificantly
off the coast
there was

a splash quite unnoticed
this was
Icarus drowning


(William Carlos Williams)

*

Bom dia!

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4.9.04


PRIMEIRO NOS SELOS, DEPOIS NA VIDA



Os primeiros selos checoslovacos de 1919, com o “castelo”, o Hradcany, uma série para amadores da filatelia com a sua multiplicidade de variedades, papel, cor, denteado, datas de emissão, em suma, história. Depois, a ele subi várias vezes, primeiro lendo o Castelo de Kafka, que , três anos antes destes selos aparecerem, vivia lá perto no 22 Zlata ulicka. Depois, subi lá, nos anos do fim do comunismo, trazido nos tanques soviéticos, pisando o mesmo chão que Hitler tinha pisado e que os comunistas tinham tornado no verdadeiro castelo de Kafka. Tudo estava impregnado do característico cheiro a carvão que, naqueles anos, só existia nos países comunistas. Ficou como um dos meus cheiros do estrangeiro, como a Coca Cola ainda hoje me sabe a estrangeiro. E mais tarde lá fui, durante a “revolução de veludo”, com a alegria e a tensão das ruas por baixo. Primeiro nos selos, depois na vida.

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APRENDENDO COM O PADRE ANTÓNIO VIEIRA:"LEMBRAI-VOS HOMENS, DO FEL, QUE VOS ESQUECE"

"Não assim Cristo. Porque quando disse Sitio, sabia mui bem que, acabados já todos os outros tormentos, faltava só por cumprir a profecia do fel: Sciens quia omnia consummata sunt, ut consummaretur scriptura, dixit: Sitio. E assim aquelas tibiezas que considerávamos, parecia que não eram amor, e eram as maiores finezas; parecia que eram um desejo natural, e eram o mais amoroso e requintado afecto. Se Cristo dissera: – Tenho sede, – cuidando que lhe haviam de dar água, era pedir alívio; mas dizer: – Tenho sede, – sabendo que lhe haviam de dar fel, era pedir novo tormento. E não pode chegar a mais um amor ambicioso de padecer, que pedir os tormentos por alívios, e para remediar uma pena, dizer que lhe acudam com outra. Dizer Cristo que tinha sede, não foi solicitar remédio à necessidade própria; foi fazer lembrança à crueldade alheia. Como se dissera: Lembrai-vos, homens. do fel, que vos esquece: Sitio. Tão diferente era a sede de Cristo do que parecia: parecia desejo de alívios, e era hidropisia de tormentos. De sorte que a ciência com que obrava Cristo e a ignorância com que obrava Pedro, trocaram estes dois afectos de maneira que o que em Pedro parecia fineza, por ser fundado em ignorância, não era amor: e o que em Cristo não parecia amor, por ser fundado em ciência, era fineza. E como a ciência ou a ignorância é a que dá ou tira o ser, e a que diminui ou acrescenta a perfeição do amor, por isso o Evangelista S. João se funda todo em mostrar o que Cristo sabia, para provar o que amava: Sciens quiu venit hora ejus, in finem dilexit eos."

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BIBLIOFILIA



Dois livros acompanharão alguns textos próximos no Abrupto: Fatih Cimok, Biblical Anatolia From Genesis to the Councils, 2002 , e Nick Rennison (Ed,), Bloomsbury Reading Guide, Londres , Bloomsbury, 2001. Um sobre sítios de ver, outro sobre sítios de ler. Ambos um retrato de uma coisa que escrevi no princípio do Abrupto, numa fase de morte de blogues por depressão umbiguista: o que interessa está lá fora. E está.

Só um exemplo do Bloomsbury, voltando à conversa ouvida ontem sobre a “história da merda da baleia”, ou seja, do Moby Dick. Quer o leitor ler mais alguma coisa sobre peixes, mar e obsessões, pois o Bloomsbury aconselha o Nigger of the Narcissus de Conrad e os Travailleurs da la Mer de Victor Hugo. Ecléctico. Querem os amadores dos comboios, que leram o soneto do Vasco Graça Moura e viram o quadro de Delvaux, mais comboios? Pois o Bloomsbury recomenda o óbvio Crime no Expresso do Oriente da Agatha Christie, o Stamboul Train de Greene (e por ele podemos chegar à Anatólia), e um menos óbvio Bom Soldado Sejk de Hasek. Ou seja, uma coisa leva à outra e depois à outra e depois à outra. Acaba? Acaba é connosco, ou acabamos primeiro. Por isso, pode haver tudo, miséria, sofrimento, doença, alegria, poder ou morte, mas aborrecimento certamente não há. Nunca percebi as pessoas que se dão ao luxo de estar aborrecidas.

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APRENDENDO COM O PADRE ANTÓNIO VIEIRA: "TENHO SEDE"

"Em todas as cousas que Cristo obrou neste Mundo, manifestou sempre o muito que amava os homens; contudo, uma palavra disse na cruz, em que parece se não mostrou muito amante: Sitio: «Tenho sede.» Padecer Cristo aquela rigorosa sede, amor foi grande; mas dizer que a padecia e significar que lhe dessem remédio, parece que não foi amor. Afecto natural, sim; afecto amoroso, não. Quem diz a vozes o que padece, ou busca o alívio na comunicação ou espera o remédio no socorro; e é certo que não ama muito a sua dor, quem a deseja diminuída ou aliviada. Quem pede remédio ao que padece, não quer padecer; não querer padecer, não é amar: logo, não foi acto de amor em Cristo dizer: Sitio: «Tenho sede.» Contraponhamos agora esta acção de Cristo na cruz e a de S. Pedro no Tabor. A de S. Pedro, parece que tem muito de fineza; a de Cristo, parece que não tem nada de amor. Será isto assim?"

(Continua)


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AR PURO


Arkhip Kuindji

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EARLY MORNING BLOGS 301

The Naming Of Cats


The Naming of Cats is a difficult matter,
It isn't just one of your holiday games;
You may think at first I'm as mad as a hatter
When I tell you, a cat must have THREE DIFFERENT NAMES.
First of all, there's the name that the family use daily,
Such as Peter, Augustus, Alonzo or James,
Such as Victor or Jonathan, George or Bill Bailey--
All of them sensible everyday names.
There are fancier names if you think they sound sweeter,
Some for the gentlemen, some for the dames:
Such as Plato, Admetus, Electra, Demeter--
But all of them sensible everyday names.
But I tell you, a cat needs a name that's particular,
A name that's peculiar, and more dignified,
Else how can he keep up his tail perpendicular,
Or spread out his whiskers, or cherish his pride?
Of names of this kind, I can give you a quorum,
Such as Munkustrap, Quaxo, or Coricopat,
Such as Bombalurina, or else Jellylorum-
Names that never belong to more than one cat.
But above and beyond there's still one name left over,
And that is the name that you never will guess;
The name that no human research can discover--
But THE CAT HIMSELF KNOWS, and will never confess.
When you notice a cat in profound meditation,
The reason, I tell you, is always the same:
His mind is engaged in a rapt contemplation
Of the thought, of the thought, of the thought of his name:
His ineffable effable
Effanineffable
Deep and inscrutable singular Name.


(T.S. Eliot)

*

Bom dia!

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3.9.04


O OUTRO LADO DOS SANTOS: PARA CONTRAPOR AO BOM PADRE VIEIRA QUE FALA LÁ EM BAIXO NA PARTE JÁ ESQUECIDA DO BLOGUE

San António bendito,
dáde-me un home,
anque me mate,
anque me esfole.

Meu Santo António,
daime un homiño
anque o tamaño tenã
dun gran de millo.

Daimo, meu santo,
anque os pés teña coxos,
mancos os brazos.

Unha muller sin home…
!santo bendito!
é corpiño sin alma,
festa sin trigo.

Pau viradoiro,
que onda queira que vaia
troncho que troncho.

Mais en tendo un homiño
!Virxe do Carme!
non hai mundo que chegue para un folgarse.

Que zambo ou trenco,
sempre é bo ter un home
para un remédio.

Eu sei dun que cobisa
causa mirarlo,
lanzaliño de corpo,
roxo e encarnado.

Carniñas de manteiga,
e palabras tan doces
cal mentireiras.

Por el peno de dia,
de noite peno,
pensando nos seus ollos
color do ceo.

Mais el xa doito,
de amoriños entende,
de casar pouco.


Face meu San António
que onda min veña,
para casar conmigo,
nena solteira,

Que levo en dote
unha culler de ferro
catro de boxe,

In irmancito novo
que xa ten dentes,
una vaquiña vella
que non dá leite...

¡Ai! Meu santiño,
facé que tal suceda,
cal volo pido.

San António bendito,
dáde-me un home,
anque me mate,
anque me esfole.

Que zambo ou trenco,
sempre é bo ter un home
para un remédio.


(Rosalia de Castro)

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POEIRA DE 3 DE SETEMBRO

Hoje, há 59 anos, Noel Coward começava a convencer-se de que poderia haver paz, pelo menos uma “officialy declared peace”, com o mundo “num caos físico e espiritual”. Escreveu no seu diário: “History in the making can be most exhausting”. Tinha razão.


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INTENDÊNCIA

Actualizado BIBLIOFILIA: LIVROS E CAPITALISMO .

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PRIMEIRO NOS SELOS, DEPOIS NO TRIBUNAL DE HAIA







Primeiro, nos selos do Estado croata, criado pelos alemães e apoiado pelo Vaticano, durante a II Guerra, e depois aqui:
"Milosevic acusou o Vaticano, também vítima do «declínio moral» das grandes potências, de querer «destruir a Sérvia para assegurar a sua expansão em direcção ao Leste». Palavras igualmente duras reservou para a Alemanha, país que, nas suas palavras, «durante anos, fez tudo para destruir a Jugoslávia».



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CONVERSA OUVIDA

- Ele punha lá aquilo no blogue. Aquilo. A história da merda da baleia...”

- O Moby Dick, não é?



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APRENDENDO COM O PADRE ANTÓNIO VIEIRA: "SÓ CRISTO AMOU, PORQUE AMOU SABENDO"

"Primeiramente só Cristo amou, porque amou sabendo: Sciens. Para inteligência desta amorosa verdade, havemos de supor outra não menos certa, e é que, no Mundo e entre os homens, isto que vulgarmente se chama amor, não é amor, é ignorância. Pintaram os Antigos ao amor menino; e a razão, dizia eu o ano passado, que era porque nenhum amor dura tanto que chegue a ser velho. Mas esta interpretação tem contra si o exemplo de Jacob com Raquel, o de Jónatas com David, e outros grandes, ainda que poucos. Pois se há também amor que dure muitos anos, porque no-lo pintam os sábios sempre menino? Desta vez cuido que hei-de acertar a causa. Pinta-se o amor sempre menino, porque ainda que passe dos sete anos, como o de Jacob, nunca chega à idade de uso da razão. Usar de razão e amar, são duas cousas que não se juntam. A alma de um menino que vem a ser? Uma vontade com afectos e um entendimento sem uso. Tal é o amor vulgar. Tudo conquista o amor, quando conquista uma alma; porém o primeiro rendido é o entendimento. Ninguém teve a vontade febricitante, que não tivesse o entendimento frenético. O amor deixará de variar, se for firme, mas não deixará de tresvariar se é amor. Nunca o fogo abrasou a vontade, que o fumo não cegasse o entendimento. Nunca houve enfermidade no coração. que não houvesse fraqueza no juízo. Por isso os mesmos pintores do amor lhe vendaram os olhos. E como o primeiro efeito ou a última disposição do amor, é cegar o entendimento, daqui vem que isto que vulgarmente se chama amor. tem mais partes de ignorância; e quantas partes tem de ignorância, tantas lhe faltam de amor. Quem ama porque conhece, é amante; quem ama porque ignora é néscio. Assim como a ignorância na ofensa diminui o delito, assim no amor diminui o merecimento. Quem, ignorando, ofendeu, em rigor não é delinquente; quem, ignorando, amou, em rigor não é amante."

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OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: FRIO, FRIO, ESTÁ A COMEÇAR A FICAR QUENTE, QUENTE



É como estes anéis nas suas falsas cores. Quentes, vermelho, mais frios, azul e verde. Se jogássemos entre eles, procurando o objecto escondido, o Graal de Saturno, teríamos que ir assim, medindo a temperatura, de frio em frio, até encontrarmos o lugar quente, afinal apenas o menos frio. O anel vermelho está a 110 K, muito, muito abaixo da temperatura em que a água gela.

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SINAIS: DE "ABORTO-EXCITADOS" A "ABORTO-CALMOS"

Sinais que o PP, Paulo Portas e o seu grupo em particular, estão a “evoluir” em matéria de aborto como aconteceu com a questão europeia: para se manterem no governo vão moldando a sua “política de princípios”. Estão a passar de “aborto-excitados” para “aborto-calmos”.

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SINAIS DE CAOS

Sinais de condução política caótica por parte do governo em toda a questão do “barco do aborto”. (Ou interpretação alternativa: sinais de que o Primeiro-ministro faz governação por cabotagem, sempre à vista da costa que, neste caso, é a comunicação social. Os resultados são os mesmos: caos e confusão de mensagens.)

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A LER

No Bloguitica GOOD COP, BAD COP e A ETERNA VÍTIMA E A TEMPESTADE NUM COPO DE ÁGUA.

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VULCÃO CUMPRE O TEU DEVER



E o meu preferido, o Piton de la Fournaise, lá o cumpre galhardamente como se vê nesta foto de ontem. Como de costume, não estou lá para ver, porque este tem o mau hábito de entrar em erupção quando eu viro as costas.

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EARLY MORNING BLOGS 300

Dove Sta Amore


Dove sta amore
Where lies love
Dove sta amore
Here lies love
The ring dove love
In lyrical delight
Hear love's hillsong
Love's true willsong
Love's low plainsong
Too sweet painsong
In passages of night
Dove sta amore
Here lies love
The ring dove love
Dove sta amore
Here lies love


(Lawrence Ferlinghetti)

*

Trezentas vezes. Bom dia!

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2.9.04


BIBLIOFILIA PURA



Pedro Homem de Mello, e ninguém me conhecia. 60 Poemas escolhidos e apresentados por Manuel Alegre e Paulo Sucena, Porto, Poiesis, 2004

Este homem escrevia assim:

CIDADE GRANDE

Onde é que há sombras como as destas casas?
Onde é que há noites como as destas luas?

Onde é que as águias abrem mais as asas
Do que este vento, apunhalando as ruas?

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BIBLIOFILIA: LIVROS E CAPITALISMO



Os Penguin Books revolucionaram a edição inglesa e depois a mundial (uma história dos Penguin Books está aqui). A ideia original era fazer livros ao preço de um maço de cigarros. Nos anos mais difíceis da guerra, os livros tinham reclames nas capas e contracapas como este de Maurice Collins de 1943. Os Norvic Shoes, o chocolate Mars e o Jif Shaving Stick , que são os reclames neste livro, não envergonhavam ninguém e ajudavam o livro a permanecer barato.

*

"A propósito do seu post dedicado à Penguin e à maneira como revolucinou a edição, vale a pena acompanhar a sua mais recente acção de promoção dos seus livros. Parece que a originalidade da Penguin não se esgotou no século passado. Aqui."

(Rui Amaral)

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CORREIO

Sofreu de novo um atraso maior. Com pedido de desculpas, vou tentando responder mesmo com atraso.

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OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: "LOOK MOM NO PEBBLE!"

não é uma frase desta série do Abrupto, mas o título da nota da NASA sobre a pedrinha que estava a encravar a broca da Opportunity.

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A PROPÓSITO DO QUADRO DE DELVAUX

soneto pardacento


estou em bruxelas de segunda a quinta:
há livrarias. não se come mal.
dos aviões, talvez eu me ressinta:
voos por ano faço cento e tal.

na europeia babel, rios de tinta
correm em cada língua oficial.
um dia, quando os quinze forem trinta,
deixa de haver europa ocidental.

das vénus que delvaux pintou, nenhuma
entre os espelhos e a melancolia
das gares e das luas, quando a cinza

do dia a dia as almas desarruma
em flamenga e francófona rezinza.
burguês. à chuva. adeus. sem maresia.

(Vasco Graça Moura)

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1.9.04


EM MOVIMENTO


Paul Delvaux

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EARLY MORNING BLOGS 299

HORSES AND MEN IN RAIN


LET us sit by a hissing steam radiator a winter's day, gray wind pattering frozen raindrops on the window,
And let us talk about milk wagon drivers and grocery delivery boys.

Let us keep our feet in wool slippers and mix hot punches--and talk about mail carriers and
messenger boys slipping along the icy sidewalks.
Let us write of olden, golden days and hunters of the
Holy Grail and men called "knights" riding horses in the rain, in the cold frozen rain for ladies they loved.

A roustabout hunched on a coal wagon goes by, icicles drip on his hat rim, sheets of ice wrapping
the hunks of coal, the caravanserai a gray blur in slant of rain.
Let us nudge the steam radiator with our wool slippers and write poems of Launcelot, the hero, and
Roland, the hero, and all the olden golden men who rode horses in the rain.

(Carl Sandburg)

*

Bom dia!

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© José Pacheco Pereira
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