ABRUPTO

7.8.04


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: O CHÃO



Este é o chão no fundo da cratera Endurance, com uma cor falsa para o vermos melhor. A "Oportunidade" olha para este chão de areia e pergunta-se: acabarei ali?

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ESTADO DO III VOLUME DA BIOGRAFIA DE ÁLVARO CUNHAL

São-me pedidas informações sobre o “estado” do III volume da biografia política de Cunhal, sobre a qual tenho trabalhado nos últimos anos. Aqui segue uma lista provisória dos títulos dos capítulos, que pode dar uma ideia do conteúdo final do volume. Os capítulos 1, 2, 3, 4, 5, 6, 11, e 15 estão praticamente encerrados. Os outros estão em fases distintas de acabamento e os capítulos 13 e 14 bastante atrasados.

ÁLVARO CUNHAL – O PRESO (1949-1960)

(todos os títulos são também provisórios)

1 – O choque: da prisão ao julgamento

2 - Os anos mais duros (1949-52): os expulsos, os “traidores” e os mortos

3 – O PCP sozinho

4 - Cunhal na Penitenciária: “a estrela de seis pontas”

5 - Estratégias contra a solidão: ler , escrever e desenhar

6.- A purga dos intelectuais

7 - A continuação das purgas

8 - Fogaça e Cunhal à distância

9 - Cunhal em Peniche (1956-60)

10 - O PCP à luz de Krutchov e o combate ao “sectarismo”

11 - V Congresso (1957)

12.- A emergência da questão colonial

13 - O “furacão” Delgado

14 - Depois de Delgado

15. - A fuga de Peniche


Como aconteceu já com os outros volumes, cada período cronológico da biografia tem problemas próprios. No caso destes anos existem dois tipos de problemas: um diz respeito ao processo narrativo e pode ser resumido nesta questão – como é que se escreve um texto sobre um homem que está preso e tem os seus gestos rigidamente controlados e repetitivos? Trinta páginas chegam para descrever o quotidiano de um preso e há que encontrar mecanismos para ligar essa aparente (e real) monotonia de gestos com o fio de uma “vida”. O segundo problema é que estes anos 1949 – 1960 são “malditos” na história oficial do PCP por várias razões contraditórias – o “sectarismo”, primeiro, e depois o que veio a ser conhecido como o “desvio anarco-liberal” e por isso são muito pouco conhecidos e estudados. Mais importante: a memorialistica em que o PCP é fértil, ilude quase completamente a política neste período, concentrando-se nas “lutas” e na repressão, o que dificulta muito saber-se o que realmente se passou. Acresce que, enquanto nos anos trinta, havia uma direcção relativamente concentrada e com uma cadeia de comando facilmente definida, os anos cinquenta são os mais confusos, entre as purgas, expulsões e decisões contraditórias.

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John Frederick Peto, The Poor Man Store

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EARLY MORNING BLOGS 275

There was an Old Man with a beard,
Who said, "It is just as I feared!--
Two Owls and a Hen,
Four Larks and a Wren,
Have all built their nests in my beard!"

(Edward Lear)

*

Bom dia!


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6.8.04


POEIRA DE 6 DE AGOSTO

Hoje, há quarenta e dois anos, Noel Coward escreveu no seu diário uma nota sobre o suicídio ontem de Marilyn Monroe:

"Marilyn Monroe committed suicide yesterday. The usual overdose. Poor silly creature. I am convinced that what brought her to that final foolish gesture was a steady diet of intellectual pretentiousness pumped into her over the years by Arthur Miller, and `The Method'. She was, to begin with, a fairly normal little sexpot with exploitable curves, and a certain natural talent".

Depois estragaram-na.

*

"Não vejo, não consigo ver, qual o interesse em citar um tipo machista e coward."

(EM)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES / OBJECTOS EM EXTINÇÃO: "LEMBRETE"

"Lembrete pertence a um interessante conjunto de palavras e ou expressões que a minha avó (de Viana do Castelo) usava e o meu Pai ainda usa (e até eu) mas que caíram em desuso. Algumas eram com certeza quase regionalismos outras puro arcaismo. Fazem parte desse grupo: pêco, pespego, salvo erro, badejo (os galegos ainda têm badejo), e tantas outras que não me vêm agora à cabeça."

(JPC)

*

"Em relação aos objectos em extinção, lembrete está bastante divulgado pelo menos entre aqueles que têm um telemóvel da Nokia com a linguagem em português. Na parte da agenda, quando escolhemos um dia aparece entre outras opções o lembrete. Em relação ao salvo-erro, costumo ouvi-la de vez em quando. Uma que a minha avó diz que não ouço ninguém dizer é "badagaio"(não sei se é assim), do estilo "qualquer dia dá-me o badagaio" : )"

(Hugo Filipe)

*

"Uns Kms a Sul : ......"o jetas",...."cor de burro quando foge",...."bronhóis com água da mina",......"ir ás mércolas"......."passou-me uma nuvem"..........."mudam o nome aos bois".......etc."

(C.Indico)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: A SOCIEDADE DA ENTREVISTA

"Pois, é por isso que há quem diga que vivemos na "sociedade da entrevista". A sociedade em que o eu se torna objecto de narração pessoal, em que a tecnologia confessional se estende dos rituais religiosos aos procedimentos das ciências sociais e humanas e depois ao trabalho dos mass media, sempre na busca da desocultação do sentimento privado autêntico.
Paradoxalmente, assim se engendram modos publicamente partilhados de sentir e exprimir sentimentos de forma socialmente aceitável. De tal forma que o próprio espectáculo se banaliza e esvazia.
"

(Tiago Neves)

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OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: MONTINHOS



O “Espírito” tem frio. Está Inverno. Tem pouco Sol em cada sol. Tem que se colocar a jeito para receber o pouco calor que recebe. Mas viu um montinho. Um montinho marciano. Na sua infinita memória lembrou-se:

Seus seios altos parecem
(Se ela estivesse deitada)
Dois montinhos que amanhecem
Sem Ter que haver madrugada.


O “Espírito” já tem menos frio. Se se virar para Norte, a terra das oportunidades, vai conseguir os seus 380 watts."Sem Ter que haver madrugada."

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Gustave Caillebotte

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: "ISTO PARECE O FORUM DA TSF"


"Hoje, ao ler a quantidade de posts de leitores do abrupto, não resisti: isto parece um “fórum TSF” online."

(Jorge Machado)


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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: AS UNIVERSIDADES ESTÃO A TENTAR FAZER O QUE DEVIA SER FEITO NO ENSINO SECUNDÁRIO (2ª série)

"Também eu sofro com o Ensino. Sou adolescente, estudante do Secundário. Todos os dias observo a ignorância dos meus colegas. Não que eu seja excepcionalmente inteligente, mas considero que, ter amigos do mesmo ano (11º)e idade, que ignoram a existência de Viriato, a fórmula química da água, é absolutamente inaceitável. Todavia, é assim que o nosso país pretende alcançar o pelotão da frente da União Europeia. Com o facilitismo, com a extrema borucracia que impede os professores de reprovar os seus educandos. Não é com mais licenciados que nos vamos desenvolver. É necessária qualidade, em vez de quantidade. Converter o Secundário em Ensino obrigatório é dar mais um passo rumo ao facilitismo.
Sinceramente, não sei onde vamos parar. Só espero estar preparado para o futuro que me espera na Universidade... Ou talvez seja melhor pensar primeiro nos exames nacionais. Desculpe o desabafo. Não estava previsto.
"

(Viriato O Porta-Bandeira )

*

"1-Nunca consegui perceber porquê que depois do 25/4/74, rebentaram com o ensino liceal, tendo-se baixado intencionalemte o nível e a quallidade do ensino.
2-Nunca consegui perceber porque rebentaram também com o ensino técnico ( o Cavaco Silva, por ex. vem do ensino técnico);
3-Nos trinta anos de Democracia, os ministros da Educação foram quase sempre do PSD.
4-Nunca consegui perceber como é que o Bagão Félix, na altura em que foi secretário de estado da formação profissional ( os anos doirados dos fundos europeus), não foi capaz de compreender que os dinheiros do FSE eram para aplicar no ensino técnico e jamais para oferecer aos habituais beneficiaários do OGE.
5-Jamais serei capaz de compreender a cultura nacional do facilitismo.
6-Considero um crime histórico de proporções catastróficas, aquela brincadeira (já na altura, evidente à saciedade) da criação das universidades privadas, ocorrida sob o período dourado do cavaquismo.
7-Finalmente: como sobreviver aos póximos vinte anos de declínio, ainda que haja coragem para pôr o ensino ao serviço dos estudantes?
"

(Maria Teresa Carvalho)

*

"Na universidade privada onde dou aulas". Não diz "na universidade privada onde sou professor", dá aulas, assim vai o ensino "superior"...

(Manuel Rocha Carneiro)

*

"Na sequência do que foi escrito a cerca do estado do ensino universitário em Portugal e da eloquente defesa do sistema feita pelo cibernauta, continuo a afirmar que a forma como o ensino, seja ele primário, secundário ou superior, é encarado e levado a cabo neste país por professores, alunos, pais, enfim, por todos os intervenientes no assunto é fruto direto da forma como o Governo encara a Educação, isto é, como assunto obviamente não prioritário ! A falta de exigência e de responsabilização passa-se a todos os níveis, embora, a meu ver, seja uma atitude fixada desde tenra idade, desde os bancos escolares, copiada dos exemplos que surgem todos os dias, de todos os lados e perpetuados "ad eternum"! Infelizmente enquanto não se ultrapassar essa necessidade de aparecer a qualquer custo, fazendo obras grandiosas em vez de dar formação e salários dignos aos professores para que possam cumprir suas funções de forma eficaz, será muito difícil alcançar um desenvolvimento digno do termo."

(Luiza Rosado)

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EARLY MORNING BLOGS 274

Judeu errante


Hei de seguir eternamente a estrada
Que há tanto tempo venho já seguindo
Sem me importar com a noite que vem vindo
Como uma pavorosa alma penada.

Sem fé na redenção, sem crença em nada
Fugitivo que a dor vem perseguindo
Busco eu também a paz onde, sorrindo
Será também minha alma uma alvorada.

Onde é ela? Talvez nem mesmo exista...
Ninguém sabe onde fica... Certo, dista
Muitas e muitas léguas de caminho…

Não importa. O que importa é ir em fora
Pela ilusão de procurar a aurora
Sofrendo a dor de caminhar sozinho.


(Vinicius de Moraes, cortesia de DBH do No Quinto dos Impérios)

*

Bom dia!

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5.8.04


EARLY MORNING BLOGS 273

Spring is like a perhaps hand

III


Spring is like a perhaps hand
(which comes carefully
out of Nowhere)arranging
a window,into which people look(while
people stare
arranging and changing placing
carefully there a strange
thing and a known thing here)and

changing everything carefully

spring is like a perhaps
Hand in a window
(carefully to
and fro moving New and
Old things,while
people stare carefully
moving a perhaps
fraction of flower here placing
an inch of air there)and

without breaking anything.


(e.e.cummings)

*

Bom dia!

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4.8.04


INTENDÊNCIA

Actualizado O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: AS UNIVERSIDADES ESTÃO A TENTAR FAZER O QUE DEVIA SER FEITO NO ENSINO SECUNDÁRIO

e o último BIBLIOFILIA.

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EARLY MORNING BLOGS 272

Un deux trois


Un deux trois
J'irai dans les bois
Quatre cinq six
Cueillir des cerises
Sept huit neuf
Dans mon panier neuf
Dix onze douze
Elles seront toutes rouges.


("Comptine"
a

ni
ma
ná,ná,ná,ná )

*

Bom dia!

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O ESTADO DA NAÇÃO


Jim Dine

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3.8.04


SEMPRE O MESMO ESPECTÁCULO, TODOS OS DIAS, EM TODAS AS TELEVISÕES

Anteontem o futebol, ontem os incêndios, hoje as derrocadas. Já repararam como tudo é tão parecido? Como tudo ocupa o mesmo lugar nos telejornais? Como uma coisa sucede à outra, ocupando o tenebroso vazio dos dias em que não há imagens “fortes”.

Na televisão todos estes eventos são-nos dados como espectáculos, usando mecanismos narrativos e fílmicos semelhantes, com actores idênticos – a tríade do Sujeito (os jogadores, o seleccionador, os incendiários invisíveis, os bombeiros, os “responsáveis”), da Sorte /Azar, e dos Espectadores Participantes (o “povo”, do futebol, das vítimas dos incêndios, dos habitantes, “levantado do chão” pelos jornalistas demiurgos).

O papel de cada um é rigidamente estabelecido: o “povo” emociona-se com as bandeirinhas, ou chora desesperado a sua desgraça, ou grita insultos contra “eles”. O “povo” na televisão só tem direito à emoção, nunca à razão. Os Sujeitos seguem a regra portuguesa, hoje génios e heróis, amanhã bestas, dependendo da Sorte /Azar, o lugar do deus ex-machina na narrativa. Quem manda? Os jornalistas, senhores da palavra, invocadores das iras e alegrias do “povo”, os que decidem se as imagens são belas ou repulsivas, escolhem a música de fundo, os planos lentos do drama, tudo. Os mestres do espectáculo.

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HOMENS / MULHERES

O editorial do José Manuel Fernandes de hoje (que não está em linha) é pelo menos, para não dizer outra coisa, um pouco bizarro. José Manuel Fernandes fala das diferenças entre os homens e as mulheres, oscilando entre o biológico e o cultural, manifestadas nos comportamentos sexuais. No exemplo com que abre o editorial, procura mostrar (demonstrar) que as mulheres são menos promíscuas do que os homens. Tudo isto o leva a louvar a “coerência “ da posição do Papa sobre a condição feminina, pilar da família.

A mim parece-me que se fosse verdade o que lá é dito, a Igreja teria então cometido um erro de proporções históricas fazendo dos homens (dos padres) os pilares da sua actuação, em vez das mulheres, muito mais fáceis de levar ao e de conservar o celibato, e de manter a “família” cristã unida… O conservadorismo nos costumes prega-nos muitas partidas.

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: AS UNIVERSIDADES ESTÃO A TENTAR FAZER O QUE DEVIA SER FEITO NO ENSINO SECUNDÁRIO (Actualizado)

"O contribuinte Aires Almeida (1.8.04) queixa-se ("com o tipo de ensino superior que temos em Portugal, nem que tivéssemos o dobro de licenciados de outros países europeus nos conseguiríamos aproximar deles"), com alguma razão, da falta de qualidade do ensino superior em Portugal. Só que nós estamos perante um dilema: se tivéssemos em Portugal o grau de exigência que se deve esperar de uma universidade, o número de alunos que teríamos não seria muito superior ao que tínhamos em 1973.

Na universidade privada onde dou aulas apenas cerca de 10% dos meus alunos estão à altura dessas exigências. O resto arrasta-se penosamente, ou nem sequer lá devia estar. Só que é este arremedo de ensino superior que pode tirar os portugueses do analfabetismo funcional. Por muito maus que os alunos sejam, saem das universidades a saber mais do que sabiam quando para lá entraram, e por vezes até começam a acordar para a cultura, o conhecimento e o rigor intelectual. Os filhos destes, quando chegarem à universidade, já estarão mais perto de poderem aproveitar as oportunidades do ensino superior, e poder-se-á exigir-lhes o que não foi possível exigir aos pais. Não esqueçamos que a maioria dos alunos universitários são oriundos de famílias onde nunca houve antes licenciados. No fundo as universidades estão hoje a tentar fazer o que devia ter sido feito no ensino obrigatório e no secundário. Em vez de criticarmos o ensino superior, devíamos tentar compreender o que está na origem dos problemas apontados, e agradecer o trabalho mais do que ingrato de aqueles que tentam ensinar a esse nível.

Dentro de uma ou duas gerações julgo que poderemos ter universidades tão exigentes como as estrangeiras. Entretanto lutamos por ultrapassar as consequências de um subdesenvolvimento multissecular. Não é uma tarefa que possa ser realizada de um dia para o outro, pelo que não vale a pena atirar-nos pedras. Exijam, sim, rigor e competência ao ensino obrigatório e ao ensino secundário, e talvez assim consigamos acelerar um pouco este processo de desenvolvimento.
"

(Nuno Cardoso da Silva)


*

"Li o texto que publicou no seu Abrupto acerca do que se passa no ensino superior nos dias de hoje da autoria de Nuno Cardoso da Silva e não posso deixar de expressar a minha total discordância pelo que ali está escrito. Um professor dizer que só 10% dos alunos é que mereciam estar no estabelecimento de ensino superior onde dá aulas é, além do mais, uma falta de respeito, além de se desconhecer que tipo de estudo objectivo dá ao autor do texto qualquer base científica para aquela afirmação grave. Mas sempre será de dizer que o insucesso de um aluno, ou mais grave a incapacidade de 90% de alunos que alegadamente se arrastam penosamente ou nem sequer lá deveriam estar, é um enorme atestado de incompetência a quem ensina. Ou será que os professores são meros despachantes administrativos? Não lhes cabe ajudar, incentivar, estimular o aluno? O insucesso de um aluno não é também um insucesso do professor?
Afirmar que se as universidades tivessem o devido grau de exigência teríamos o mesmo número de alunos de 1973, exala um lamentável saudosismo do antigamente. Um saudosismo fascista que se denuncia pelo facto daquele autor fazer referência que muitos alunos provêm de famílias onde não há licenciados. E depois? Em 1973 não havia alunos oriundos de famílias operárias? Claro que havia. Em plena democracia fazer a defesa encapuzada do elitismo selectivo é no mínimo de um anacronismo lamentável.
O ensino superior carece de um ensino obrigatório e de um ensino básico melhores, disso não há dúvida. Comece-se por aí. Agora não venham falar em percentagens de empirismo viciado ou em enquadramentos sociológicos descabidos. O texto em causa é um insulto às conquistas da democracia e ao acesso à ciência e ao conhecimento que a mesma possibilitou. Por muito que cause saudades os tempos em que se fazia do analfabetismo e da ignorância os pilares fundamentais de interesses instituídos.
Por último quero dizer o seguinte: tenho formação académica e sei bem a exigência a que fui sujeito, juntamente com muito colegas meus, quer em termos programáticos quer em termos de avaliação. Não se queira dar a ideia que em Portugal reina a balda e a anarquia. O que reina, sim, é a contínua divergência entre o ensino (básico, secundário e superior) e o mercado de trabalho. O que reina são a falta de meios com que professores e alunos se deparam dia-a-dia nas universidades. O que reina é a falta de apoio a quem quer cá ficar no campo da investigação.
Os problemas são bem visíveis, não se tente fazer fumo.
"

(Carlos Bote)


*

"O Sr. Carlos Bote pode revoltar-se contra as opiniões do Sr. Nuno Cardoso da Silva. Mas não pode revoltar-se contra a constatação que ele faz, de que apenas 10% dos alunos têm capacidades (e penso que não fala de capacidades inatas, genéticas) para estar no ensino, mesmo que a a afirmação não seja sustentada por nenhum estudo científico.
Licenciei-me há 4 anos no Técnico. Penso que o meu curso foi bastante exigente, tive de me superar sucessivamente e fui melhorando a performance ao longo do curso, que acabei com uma boa média. É claro para mim que a minha preparação (em termos de rigor, ritmo de trabalho e, menos importante, conhecimentos) era à partida insuficiente.
Dou agora aulas noutra universidade pública (menos exigente que a minha). Os alunos que ensino estão ainda mais incapazes do que eu era. A grande diferença é que eu tinha umas luzes de como pegar num livro e aprender e de como estar numa aula, sentado, sem perceber o que o professor dizia mas a tentar. Esse esforço, sempre frustrante, é impensável para os meus alunos (que me reconhecem bom domínio da matéria e capacidade de a transmitir).
Escapei por um ano às primeiras reformas do ensino secundário. Será aqui que está a diferença?
"

(Ricardo Resende)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: O TRIUNFO DO TRIVIAL

"Do NYTimes de 30 de Julho de 2004, transcrevo Paul Krugman:

Under the headline "Voters Want Specifics from Kerry", The Washington Post recently quoted a voter demanding that John Kerry and John Edwards talk about "what they plan on doing about health care for middle-income or lower-income people. I have to face the fact that I will never be able to have health insurance, the way things are now. And these millionaires dont seem to address that".

Mr. Kerry proposes spending $650 billion extending health insurance to lower-and-middle-income families. Whether you approve or not, you can´t say he hasn´t addressed the issue. Why hasn´t this voter heard about it?

Well. I´ve been reading 60 days´worth of transcripts from the places the four out of five Americans cite as where they usually get their news: the major cable and broadcast TV networks. Never mind the details - I couldn´t even find a clear statement that Mr. Kerry wants to roll back recent high-income tax cuts and use the money to cover most of the uninsured. When reports mentioned the Kerry plan at all, it was usually horse race analisys - how it´s playing, not what´s in it.

(...)

Somewhere along the line, TV news stopped reporting on candidates´policies, and turned instead to trivia about that supposedly reveal their personalities. We hear about Mr. Kerry haircuts, not his health care proposals. We hear about George Bush´s brush cutting, not his environmental policies.

(...) A Columbia Journalism Review Web site called campaigndesk.org, says its analisys " reveals a press prone to needlessly introduce Senators Kerry and Edwards and Kerry´s wife, Teresa Heinz Kerry, as millionaires or billionaires, without similar labels for President Bush or Vice President Cheney."

As the site points out, the Bush campaign has been "hammering away with talking points casting Kerry as out of the mainstream because of his wealth, hoping to influence press coverage (,...). Republicans, of all people, are practicing the politics of envy, and the media obediently go along.

In short, tht triumph of the trivial is not a trivial matter. (...)."

Por este caminho a Democracia faz-se substituir pela mediocracia."


(H. Preto)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: ONDE NOS QUEREM COLOCAR

"
"A foto foi tirada na cidade onde habito praticamente desde a nascença, Guimarães, e pretende simbolizar as peças de um jogo que nós somos, manipulados, nas linhas e colunas onde nos querem colocar. "Nós não somos aquilo que somos, mas o que os outros pensam de nós."

(Paulo Pinto)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES. A OFERTA E A PROCURA NOS INCÊNDIOS

"Já há muito tempo que os incêndios são um negócio que envolve montantes elevados e o mais diverso tipo de interesses. O Estado, todo ele (Central, semi-central, autárquico, empresas públicas, institutos públicos, protecções civis), como sempre é o "pivot" de tudo.O dinheiro que o Estado arrecada e gasta é conseguido a muito baixo custo, através de impostos.

Ora, o Estado, há três décadas, que se convenceu (ou foi convencido) que o problema dos incêndios se apaga atirando para cima deles dinheiro, esquecendo que as notas são de papel e quanto mais notas se atiram, mais os incêndios crescem. É A LEI DA OFERTA E DA PROCURA.Quanto mais dinheiro há para combater os incêndios e tudo o que os rodeia, mais fogos aparecem e aparecerão!

Os dados da protecção civil não deixam dúvidas: Na década de 70, o incêndio médio consumia 4 hectares de floresta! Começa o dinheiro do Estado para os fogos! Na década de 80, o incêndio médio passa para 40 hectares de floresta! É preciso mais dinheiro! Faltam meios! Na década de 90, o incêndio médio passa para 400 hectares! Mais, mais, mais dinheiro, aviões, helicópteros, indemnizações .... Actualmente, início do século XXI, o incêndio médio passou para 4 000 hectares!!!

Será preciso extrair qualquer conclusão! A minha pequena vila da Beira Litoral tinha há 30 anos, 3 carros de bombeiros. Hoje tem 30 e sofisticadíssimos, nunca houve tanto incêndio como actualmente e as queixas de meios insuficientes são permanentes!!! Mal se iniciou o verão deste ano e perante o primeiro incêndio pequeno, o autarca local veio logo exigir que o Estado fosse rápido a pagar as indemnizações para o seu concelho e, para isso, propunha que a disponibilização desses dinheiros estivesse isenta de qualquer formalidade ou processo burocrático. Venha o dinheiro e já!!! Os incêndios são altamente rentáveis para muita gente!!!

O espectáculo das televisões é extraordinário!!! Dezenas de jornalistas, eqUipamentos, materiais, helicóteros alugados a bom preço, nos locais para fazer a reportagem dos fogos, como da Volta a Portugal se tratasse! E, de facto, tal como os ciclistas lá aparecem como previsto, também os incêndios não defraudam as expectativas da indústria dos "media" lá comparecendo, à hora certa, para gáudio do negócio jornalístico!

As TVs estão quase a ganhar coragem para passar a incluir nas reportagens dos incêndios: "Vamos ligar, em directo ao incêndio da Serra do Caldeirão, com o patrocínio do Banco ... e, de seguida, vamos ver como está o fogo de Viana do Castelo com o patrocínio da Cerveja ... Fique connosco, a TV que melhor cobertura fez dos incêndios em 2003, de acordo com a Markteste!!!"


(João Augusto)

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CONSULTA OBRIGATÓRIA

Página Eu Sou Astrónomo, de iniciativa de Pedro Guinote. E a Astronomy Picture of the Day, que, à primeira vista, não vi incluída nas muitas ligações da página portuguesa.

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: UM SOCIAL DEMOCRATA...

"Gostei imenso do discurso do Dr. Miguel Veiga. Eu não fazia a mínima ideia que alguém activo no PSD ainda acreditava na social democracia! Quero dizer, que alguém no PSD acreditava que as pessoas deviam ter todas direito à sua dignidade, ou que alguém no PSD ainda se atrevia a acreditar nas políticas sociais e fiscais que o PSD defendia quando eu fazia campanha pela AD: erradicar a pobreza, quebrar o ciclo da miséria, educar todos, restaurar a auto-estima dos mais pobres e ensiná-los a ganhar dinheiro, etc. Ficamos a saber que ainda há UM social democrata neste PSD conservador, católico, liberal (social liberal), nacionalista e anti-intelectual, onde os pobres não contam e os ministros falam em baixar o salário mínimo para “melhorar a economia” e criar mais “empregos”.

Desculpe-me que lhe diga, mas não creio que o Dr. Miguel Veiga faça uma grande diferença neste PSD que nos todos vemos como uma ala moderada do PP. Mais um Miguel Veiga, menos um Miguel Veiga... vamos continuar a falar da localização do casino e a dívida externa vai subir para 250 billiões de dólares. No fim do dia, tudo considerado, eu acho que o PSD (e o CDS do Prof. Freitas do Amaral) eram largamente partidos de pessoas que acreditavam na democracia, que queriam ter uma palavra a dizer em relação aos seus futuros. Claro que estavam cheios de fascistas e de imbecis, e de snobs, e de arrivistas que achavam que iam fazer carreira a lamber as botas aos ricos e aos poderosos. Mas este PSD e este PP são partidos de gente que anda à procura de um líder que “saiba” o que é melhor para eles, que lhes meta medo e depois os prometa defender, que os roube e lhes diga que “dos pobres é o reino dos céus”, que lhes dê procissões, milagres e canonizações em Fátima, e um Big Show SIC permanente na comunicação social. Pode ser triste admiti-lo, mas há que dizê-lo: o Dr. Santana Lopes e o candidato que melhor representa o PSD hoje.
"

(Filipe Vieira de Castro)

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BIBLIOFILIA

Nancy Schoenberger, Dangerous Muse. A Life of Caroline Blackwood, Londres, Weidenfield, 2001

Uma história de mulher: um pouco das Mitford (um blend das várias irmãs), um pouco de Lou Andreas Salomé, um pouco de harpia, um pouco de Plath, muita bebida, maridos pouco recomendáveis (Lucien Freud, Robert Lowell e outro), decadência, literatura a mais.

Quando se é muito belo(a) na juventude, e tudo pára à volta, os estragos da vida são muito visíveis e dificilmente se envelhece bem, se é que isso existe. As fotografias do livro mostram a deterioração da beleza com grande crueldade e percebe-se como Lady Caroline e os seus homens contribuíram activamente para o resultado. Freud, que via figuras e não abstracções nas suas pinturas, percebeu-o muito bem, retratando-a, em Hotel Bedroom de 1954, feia e velha quando ela era ainda muito bela.


*

"Envelhecer bem ou mal é um daqueles conceitos que me exasperam. Não se envelhece bem nem mal. Envelhece-se. Bem e mal. E assim assim. Conforme os dias. É como crescer (aliás, em bom rigor, são a mesma coisa.)

A ideia do “envelhecer bem” é um conceito absolutamente mundano, dos muitos que por ai pululam, que nos fazem prisioneiros do vazio. (e dos cremes anti rugas). Lembrei-me agora de um detalhe de há uns anos (...) que me deixou gelada. Um grande amigo meu morreu. No velório, alguém me perguntou: “Já o viu? Está muito bem.” Claro que não o vi. Nem queria ver. Bem? Não. Morto. Bem e mal."


(RM)

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OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: BOA VIAGEM, MENSAGEIRO









para o planeta de ferro, com asas nos pés, o comerciante, o ladrão, o portador das boas notícias, o veloz, o enganador, o atleta, o deus dos rebanhos que também a nós pastoreias, as “tribos dos homens mortais”, através da “negra noite”. Hermes Promakhos, campeão, Hermes Trikephalos, que nos guias nas estradas, Hermes Dolios, com todas as habilidades, Hermes Epimêlios, que proteges os rebanhos. Nosso Mercúrio, dos gentios.

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EARLY MORNING BLOGS 271

A la noche


Noche, fabricadora de embelecos,
loca, imaginativa, quimerista,
que muestras al que en ti su bien conquista
los montes llanos y los mares secos;
habitadora de cerebros huecos,
mecánica, filósofa, alquimista,
encubridora vil, lince sin vista,
espantadiza de tus mismos ecos:

la sombra, el miedo, el mal se te atribuya,
solícita, poeta, enferma, fría,
manos del bravo y pies del fugitivo.

Que vele o duerma, media vida es tuya:
si velo, te lo pago con el día,
y si duermo, no siento lo que vivo.


(Lope da Vega)

*

Bom dia!

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2.8.04



Alfons Walde

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: HEPATITE C

"Sou um portador do vírus da Hepatite C, uma doença grave, que ameaça tornar-se numa das maiores epidemias da história da humanidade. Descobri isso há cerca de 3 anos e meio e de lá pra cá tenho travado uma grande batalha para obter informações e apoio, para além de já me ter submetido a dois prolongados ( o primeiro por 8 meses e o segundo por 1 ano ) tratamentos à base de Interferão e Ribavirina, com imensos e penosos efeitos colaterais e mesmo sociais ( a nivel profissional e não só ).

Há muito pouca informação disponivel e nenhuma Associação de apoio aos portadores desta doença que pode ser mortal ou tornar-se crónica. Estima-se que em Portugal já existam cerca de 125.000 portadores, embora sómente 10% o saibam. A Hepatite C é uma doença assintomática e contagiosa. Seu vírus ( HCV ) transmite-se básicamente pelo sangue contaminado e pode permanecer até trinta anos no corpo humano. Por isso a maioria dos infectados ( para além dos chamados grupos de risco ) está nas faixa dos cinquenta anos, ou seja : foram contaminados antes do apertado controlo do sangue que se deu depois do surgimento da SIDA. Em Portugal, por exemplo, sabe-se que os ex-combatentes e mulheres que tenham recorrido à cesariana antes do surgimento da SIDA, são potenciais portadores do vírus.

Por isso tomei a iniciativa de criar um Blog que pretende ser um ponto de apoio e fonte de informação aos demais portadores. Ocorre que é muito dificil divulgá-lo. Venho solicitar, se possível, a sua inestimável colaboração para a divulgação deste Blog."

(Almeida Neto)

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ELOGIO DE MIGUEL VEIGA

As intervenções que Miguel Veiga fez nos Conselhos Nacionais do PSD, em Julho, são dois documentos únicos na nossa vida partidária actual. Tenho pena que o seu texto integral não seja conhecido e, com autorização do seu autor, publiquei-as no VERITAS FILIA TEMPORIS. Ficam para a nossa história política. Não conheço paralelo em nenhum outro partido, nos dias de hoje, de um seu responsável eleito manifestar a sua discordância face a um quase unanimismo (e, nesses dias, um unanimismo agressivo, como se vê nos momentos em que foi interrompido), usando de uma clara argumentação política que separa todas as águas. Não há nessas intervenções nenhuma retórica: Miguel Veiga diz a Durão Barroso e a Santana Lopes, e aos conselheiros do PSD, o que deve ser dito, de forma clara e límpida, e com uma acutilância política que não deixa nenhuma pedra por virar.

Claro que não são soundbites, e ninguém se deu ao trabalho de as relatar em função da sua relevância, nem os jornalistas dão importância a estes discursos mais elaborados e argumentados. Veiga é tratado com displicência, quando não no tom insultuoso de Meneses, por jornalistas que se irritam por ele falar de coisas que não cabem em duas frases e que lhes parecem “complicadas”. Como alguns deles medem os políticos pela sua ambição face aos cargos e ao “protagonismo”, e como Veiga não tem nenhuma, não conta. Mas, ao cumprir, em condições difíceis, a sua obrigação política e moral, restituiu ao PSD a honradez dos homens do Porto que, como Sá Carneiro, o fizeram. Nele, o sopro genético que fez o PSD, no pensamento e na acção de Sá Carneiro, vivem pelos princípios, pelo pensamento e pela política, e não por uma mimética fúnebre assente em arroubos coreográficos.

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NOLI ME TANGERE

O papel da “cultura” como instrumento de propaganda do Estado moderno (e dos seus governos) é essencial no paradigma Malraux – Lang, de que o actual Primeiro-Ministro já se proclamou discípulo no passado. A “cultura” é, junto com o desporto e o espectáculo urbano, uma das formas modernas do circo que se substitui ao pão. Será ele, o Primeiro-Ministro, o verdadeiro “ministro da cultura”, e aí pode desenvolver, com pequenos custos, operações de propaganda usando esse meio intangível, fortemente dependente do Estado e muito venal.

É uma área onde se move bem e onde sabe como actuar, onde sabe como fazer operações pontuais de sucesso garantido. (Outro ministro que também aprendeu a fazê-lo foi Morais Sarmento, envolvendo na reprogramação da “2”, um canal péssimo sob todos os pontos de vista, um grupo de intelectuais, os quais depois ficaram naturalmente constrangidos ou silenciosos na sua crítica ao produto final). É só contar os dias até ver que intelectual (ou artista) da esquerda vai aceitar colaborar com o governo (melhor, com o seu Primeiro-Ministro), calando um sector crítico e suscitando elogios pela escolha.

*

"O Dr. Pacheco Pereira gosta de fingir que ignora certas coisas. Pretende fazer passar a ideia de que as ideias sobre a cultura de André Malraux, de Jack Lang, e, no caso português, de Manuel Maria Carrilho, são em tudo idênticas às ideias de Pedro Santana Lopes. Mas sabe que existem diferenças abissais entre eles.
Os três primeiros são (ou foram) pessoas extremamente empenhadas na cultura e nas artes, não só na vertente patrimonial, mas também na vertente de produção contemporânea, e que, por isso, têm (ou tiveram) um projecto cultural que passa(va) pelo apoio aos agentes culturais, com vista a promover a criação. Não vejo como consegue o Dr. Pacheco Pereira pôr em causa a honestidade das suas opções políticas. Poderá não concordar com as suas ideias, mas não têm o direito que dizer que elas se limita(va)m a "operações de propaganda". Além disso, sendo pessoas empenhadas nas manifestações artísticas e culturais conhecem muito bem o mundo em que se move(ra)m e apresenta(ra)m projecto consistentes
Com Santana Lopes, pelo contrário, nada disso acontece. Ele não é definitivamente uma "homem da cultura" e apresenta grandes deficiências quanto a conhecimentos culturais e artísticos, sobretudo no que toca a arte contemporânea (refiro-me à criação dos últimos 200 anos). As suas medidas na área da cultura são muito erráticas, não apresentam nenhuma consistência, funcionando muito mais para fazer alarido (como, aliás, acontece em todas as outras áreas em que intervém) . O exemplo do Parque Mayer é sintomático. A ideia de procurar ressuscitar a Revista Portuguesa, um género teatral sem nenhum interesse cultural, só pode vir de alguém que não percebe nada de teatro mas que sabe muito bem como fazer passar para os portugueses a convicção de que é um político com preocupações culturais.
Para finalizar, gostaria de acrescentar que muito mais rapidamente compreenderia que o Dr. Pacheco Pereira estabelecesse uma relação entre Malraux, Lang e Carrilho e Teresa Patrício Gouveia. Por que razão esta relação não é feita? Porque interessa muito mais juntar os três primeiros a uma personagem do PSD incompetente."

(Mário Azevedo)

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EARLY MORNING BLOGS 270

Henri quatre


Henri quatre
Voulait se battre
Henri trois
Ne voulait pas
Henri deux
Se moquait d'eux
Henri un
Ne disait rien.


("Comptine" anónima)

*

Bom dia!



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1.8.04



Diebenkorn, Ocean Park

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: UMA PORTUENSE NO EXÍLIO REGRESSA A CASA

"1 - Vou comprar o jornal e o rapaz, corpulento mas ainda adolescente lança-me um “Bom-dia menina!”. No supermercado para pagar pedem-me “na outra caixa, menina”, nas lojas perguntam-me “a menina já está atendida?”.

Fico surpreendida, não me lembrava que fosse assim, ou porque não o era de facto, ou era de facto, mas porque também eu era “menina” tudo era e soava natural. Mas feitas as contas o “menina” é bem mais afável e simpático do que o indiferente e deseducado “você” com que me brindam habitualmente noutros locais nos dias de hoje.

2 – “Como se chama o teu irmão?”. Responde-me a criança prontamente: “Dabide!” com “b” e “d” bem soprados. (It feels like home!)

3 – Certa manhã acordei com um som da minha infância: a ronca dos nevoeiros de verão! (It’s home!) E eu a pensar que tal já não existia; pelos vistos enquanto houver nevoeiros no verão…

4 – Os “croissants” que como para tirar a barriga de misérias, não são afrancesados e folhados, mas sim fofos e cheios.
"

(JPC)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: INCÊNDIOS - UM TESTEMUNHO

"No domingo passado entre os muitos incêndios que infelizmente surgiram por todo o país, houve também um incêndio no Alentejo, na minha terra, junto à casa dos meus pais e de muitos vizinhos e amigos que conheço desde que nasci. Não causou danos maiores do que os já suficientemente graves da área ardida, isto é, não arderam casas, não houve mortos nem feridos mas ficou destruída, evidentemente, vegetação, cortiça, pastagem para gado. Acontece que contactar mais de perto com esta realidade me fez tomar consciência da forma como as coisas estão organizadas e ter a vontade de as gritar bem alto para que todos as conheçam. Esta pequena aldeia (Fornalhas Novas), fica a mais de 50 Kms de distância da sede do Concelho a que pertence – Odemira, portanto Distrito de Beja. Existem duas corporações de bombeiros relativamente próximas, uma a cerca de 12 kms (Alvalade-Sado) e outra a cerca de 20 (Cercal do Alentejo). Ambas na área territorial do Concelho de Santiago do Cacém, Distrito de Setúbal.

Quando os residentes locais deram conta do deflagrar do incêndio chamaram evidentemente os bombeiros, e, salvo melhor opinião, muito correctamente chamaram os que se encontram mais próximos. Segundo me foi relatado os bombeiros desta corporação chegaram mesmo a deslocar-se ao local do incêndio e lá foram informando que não sendo do concelho, nada poderiam fazer. E nada fizeram. Nessa altura o fogo rapidamente teria sido circunscrito. Mas não. Foi preciso esperar pela corporação certa, a do Concelho, que fica a mais de uma hora de distância! É possível compreender isto? Não consigo conceber que burocracias de divisões administrativas e territoriais se sobreponham ao combate a um incêndio. E ponham em causa bens e, mais grave do que isso, vidas humanas. Infelizmente percebo agora muito melhor as razões de tanta calamidade um pouco por todo o país.

Não consigo compreender a actuação dos bombeiros. Acredito que se têm este tipo de actuação é porque recebem instruções neste senti do. O que indubitavelmente tem de se colocar em causa é a forma como as coisas estão organizadas. Muito provavelmente por quem não faz a mínima ideia das realidades no terreno, não faz ideia das distâncias. Ultrapassa completamente a minha capacidade de entendimento ficar à espera dos bombeiros certos permitindo que o fogo avance e destrua tudo à sua passagem. A mim parece-me lógico e evidente que não se deve esperar que o fogo avance. Este não escolhe concelhos nem freguesias. Quando avança, avança. Não tem jurisdição. Porque é que o seu combate há-de ter? Terão os responsáveis a noção das consequências deste tipo de actos administrativos? Não deveriam ser criadas áreas de actuação independentes das divisões administrativas? Será que nem para combater incêndios somos capazes de nos organizarmos? Será assim tão impensável que os municípios colaborem uns com os outros? Será que a Protecção Civil de Setúbal e a de Beja não podem pôr um pé no território uma da outra? Enquanto is so tudo arde???? Um incêndio não é propriamente um papel que anda de secretária em secretária até que “encontre” o funcionário “certo” para tratar do assunto... Sem retirar gravidade a este acto, mas essa é outra discussão..."

(Maria Santos Silva)

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ELOGIO DA CAPITAL

A Capital é hoje um jornal que vale a pena ler, até porque a sua agenda é muito diferente da dos outros jornais diários. O jornal é bastante mais à esquerda do que todos os outros, mas não é só por isso que faz a diferença. É porque reflecte, talvez por ter uma equipa pequena, a idiossincrasia dos seus redactores e do seu director. É um jornal maison, íntimo, e por isso é um jornal urbano interessante, que publica trabalhos jornalísticos com informação nova e temas pouco tratados, ou tratados de um ponto de vista diferente das redes de contactos estabelecidas na imprensa tradicional.

A “cultura”, nome dado hoje quase que exclusivamente às industrias culturais, tem por exemplo na Capital um tratamento distinto daquele que é dado no Público, no Expresso ou no Jornal de Letras, onde habitualmente se ouve a voz dos médios e grandes “empresários” - “criadores”. (No livro de Péan sobre o Le Monde, um dos capítulos mais interessantes é aquele sobre as redes de influência e patrocinato nos suplementos culturais, e que, transposto para Portugal, daria resultados muito reveladores.)

Na Capital falam os “pequenos”. A reportagem de hoje sobre os “criadores” culturais é reveladora do seu peso nas indústrias culturais, com as suas pequenas empresas urbanas, e a sua dependência do Estado e das autarquias. No centro de toda a reportagem, está um discurso - entre o afectivo e o ad terrorem - sobre os subsídios do Estado central e das autarquias, elaborado por Alexandre Melo, referido no jornal como “o especialista”. Vale a pena ler o “especialista”:

Quando se tenta pôr em causa, em termos gerais, a existência de subsídios como instrumento de política cultural, julgo que não se está avaliar bem as consequências disso numa sociedade como a portuguesa”(…) “Em Portugal, caso desaparecessem totalmente os subsídios, desaparecia o cinema, a dança, o teatro, a música. Desaparecia praticamente tudo o que fosse criação cultural excepto algumas formas de criação decalcadas do modelo televisivo e que alinham pelo mínimo denominador comum de uma população caracterizada por níveis de analfabetismo, ignorância e subdesenvolvimento cultural massivos, que estão entre os mais baixos da Europa e do chamado mundo desenvolvido” (Alexandre Melo)

E os seus ecos:

Pedro Penim reforça essa ideia: “O teatro não subsiste por si, precisa de ser apoiado. Esse apoio permite ter uma estrutura de produção a tempo inteiro, pagar aos actores e ter um espaço para ensaiar e apresentar as peças”.
Foi precisamente a partir do momento em que passou a receber o subsídio estatal que o Teatro Praga – uma jovem companhia nascida em 1995 e de que Penim é um dos mentores – começou a actuar de acordo com uma estrutura mais profissional.



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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: O ESTADO DAS COISAS

"Penso que foi o mesmo Carlyle que teria dito haver três tempos em política (cito de memória): "o tempo da ideologia, o tempo do pragmatismo e o tempo do oportunismo". Estaremos de acordo que atingimos o terceiro stadium..."

(Rui Mota)

*

"(...) a ler o excelente artigo de Desidério Murcho em sobre a qualidade do ensino da filosofia em Portugal (já agora, permita-me que lhe sugira uma visita ao site dirigido por Desidério Murcho sobre filosofia e que é, em minha opinião, um dos melhores que se podem encontrar em toda a net).

É comum atribuir-se o atraso português aos nossos baixos níveis de instrução (não falo só do atraso cultural: dado o nosso país não ter os artistas, os cientistas, as orquestras, etc. que seria de esperar de um país europeu com mais de 800 anos de história). E os media dão frequentemente como exemplo os números de licenciados e doutorados, comparando esses números com os de outros países europeus. Considero que o diagnóstico está correcto, mas a simples comparação acerca dos números de licenciados e de doutorados esconde um problema muito mais grave: com o tipo de ensino superior que temos em Portugal, nem que tivéssemos o dobro de licenciados de outros países europeus nos conseguiríamos aproximar deles. O problema não está no número, mas na qualidade do ensino superior. A indigência do nosso ensino superior é um dos maiores cancros do país e quase ninguém fala disso. Talvez porque quem tem voz pública faça quase sempre parte da pseudo-comunidade científica nacional e contribua activamente para o triste panorama que refiro. Só agora, quando alguns dos nossos concidadãos doutorados noutros países começam a leccionar nas nossas faculdades (sobretudo nos departamentos de ciências) é que se começam a ver alguns sinais de esperança. Mas nos departamentos das chamadas «ciências humanas», literaturas e filosofia, o panorama é simplesmente medonho. Para quê ter cursos superiores tirados nestas universidades? Eu licenciei-me em filosofia na FLUL e de filosofia nada aprendi. Acho quase miraculoso como não me conseguiram aniquilar o interesse pela filosofia, como sucedeu a muitos dos mais inteligentes colegas que tive. Em Portugal não há verdadeiro ensino de filosofia (e de muitas outras coisas) porque simplesmente não há verdadeira comunidade filosófica; o que abunda são umas eminências pardas, provincianas, desinformadas, improdutivas e mesquinhas que tentam passar por grandes pensadores e odeiam a ciência, o rigor os argumentos e as ideias.

O ensino superior em Portugal é um verdadeiro tabu nacional. Não lhe parece que isto merece ser discutido?"


(Aires Almeida)

*

"Li os seus escritos sobre o casal da margem sul.São 3.30 da madrugada de um sábado e tomo a liberdade de lhe dar a minha situação pessoal que, quanto a mim, reflecte e de que maneira alguns dos piores aspectos caracterizadores do pobre país que temos.
Não se consegue dormir no bairro onde habito, no Montijo, porque duas discotecas fazem um barulho infernal.

Já contactámos com a Câmara Municipal, de forma oficial, através de correio devidamente registado. Já fizemos inúmeras queixas à Polícia.
Nada acontece. E porquê?
Quanto a mim porque:

1.Na ânsia de satisfazer as clientelas autárquicas, se foi criando um monstro, entregando-lhe poderes excessivos que fazem que a própria polícia não actue com receio de represálias, uma vez que as licemças de funcionamento destes estabelecimentos, passaram, creio que durante um dos governos Guterres, a depender exclusivamente das Câmaras municipais.

2. Neste país de leis para tudo, falta "só" fazê-las cumprir e respeitar.Este é um dos cancros da nossa sociedade.

Ah, é verdade, não chamámos ainda as televisões. talvez seja por isso que o problema não foi resolvido...
"

(M. Barrona)

*

"Quando é que alguém critica a incompetência dos bombeiros. Incompetência pura! apesar da coragem que ninguém lhes retira, a maior parte não tem formação adequada, friso, adequada!

Isto para não falar da incompetência das chefias. Com o nível de literacia deste país dá vontade de pensar quantos bombeiros sabem ler um mapa militar? Quantos sabem orientar-se? qtos sabem servir-se de uma simples bússola? Se pensarmos que a maioria dos portugueses não percebe as instruções de uma máquina de lavar a roupa....

Pode escrever ou dizer publicamente alguma coisa sobre isto? É que sinceramente estou farto da desculpa do "maluco da aldeia" que gosta de ouvir as sirenes..."


(João Duarte)

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POEIRA DE 1 DE AGOSTO

Hoje , há cinquenta e quatro anos, estava calor, humidade e chovia. Tempo de Verão no Massachusets. Sylvia Plath tinha dezoito anos. Sylvia estava “tentada” a escrever um poema. Olhou para a chuva e lembrou-se de uma carta rejeitando a publicação de um poema: depois de uma grande chuvada, poemas intitulados “Chuva”, “chovem” por todo o lado nas revistas e jornais. Desistiu. Há uma poesia a menos sobre a chuva.

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John Constable

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EARLY MORNING BLOGS 269

Romance del infante vengador


Helo, helo por do viene el infante vengador,
caballero a la jineta en un caballo corredor,
su manto revuelto al brazo, demudada la color,
y en la su mano derecha un venablo cortador;
con la punta del venablo sacarían un arador,
siete veces fue templado en la sangre de un dragón
y otras tantas afilado porque cortase mejor,
el hierro fue hecho en Francia, y el asta en Aragón.
Perfilándoselo iba en las alas de su halcón.
Iba buscar a don Cuadros, a don Quadros, el traidor.
Allá le fuera a hallar junto al emperador,
la vara tiene en la mano, que era justicia mayor.
Siete veces lo pensaba si lo tiraría o no
y al cabo de las ocho el venablo le arrojó;
por dar al dicho don Cuadros, dado ha al emperador,
pasado le ha manto y sayo, que era de un tornasol,
por el suelo ladrillado más de un palmo lo metió.
Allí le habló el rey, bien oiréis lo que habló:
-¿Por qué me tiraste, infante? ¿Por qué me tiras, traidor?
-Perdóneme tu alteza, que no tiraba a ti, no,
tiraba al traidor de Cuadros, ese falso engañador,
que siete hermanos tenía no ha dejado si a mí, no.
Por eso delante de ti, buen rey, lo desafío yo.
Todos fían a don Cuadros y al infante no fían, no,
sino fuera una doncella, hija es del emperador,
que los tomó por la mano y en el campo los metió.
A los primeros encuentros Cuadros en tierra cayó.
Apeárase el infante, la cabeza le cortó
y tomárala en su lanza y al buen rey la presentó.
De que aquesto vido el rey con su hija le casó.


(Anónimo do Romanceiro)

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Bom dia!

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VER A NOITE - BLUE MOON 2

J'ai vu dans la lune

"J'ai vu dans la lune
Trois petits lapins
Qui mangeaient des prunes
Comm' des p'tits coquins
La pipe à la bouche le verre à la main
En disant : " Mesdames,
Versez-nous du vin,
Tout plein. "


(Anónimo)



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© José Pacheco Pereira
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