ABRUPTO

24.1.12


O MAIS PREOCUPANTE
É o progressivo controlo da comunicação social portuguesa por grupos económicos angolanos que, onde tocam e entram, acabam com a possibilidade de se dizer o que se disse atrás. Em matéria de informação  não brincam em serviço e retaliam. Que o diga Rafael Marques e a sua denúncia dos “diamantes de sangue” e outras que faz na Internet da corrupção da elite angolana e da cumplicidade activa dos portugueses com as operações de branqueamento, fuga de capitais, cobertura política, etc., e que são bastante silenciadas em Portugal. A RTP África não tem jornalismo sobre Angola, senão era corrida de lá, a RTP idem, o Sol  tece loas ao dinheiro angolano a que pertence e silencia tudo de sensível sobre a elite de poder, e, a continuar assim, pode vir a haver um canal privatizado da RTP também angolano. Este caminho é muito, muito preocupante.

(Enviada a 17 para a revista, publicada a 19 de Janeiro.)

NOTA: do Público de hoje

RDP acaba com espaço de opinião que serviu de palco a críticas duras a Angola

O jornalista Pedro Rosa Mendes confirmou, em declarações ao PÚBLICO, ter sido informado, por telefone, que a sua próxima crónica, a emitir na próxima quarta-feira no programa “Este Tempo”, da Antena 1, será a última. “Foi-me dito que a próxima seria a última porque a administração da casa não tinha gostado da última crónica sobre a RTP e Angola”, diz o jornalista, por telefone, a partir de Paris.

“A ser verdade, esta atitude é um acto de censura pura e dura”, sustenta o jornalista, que aborda nessa crónica a emissão especial que a RTP pôs no ar na segunda-feira, 16 de Janeiro, em directo a partir de Angola. A chamada telefónica que serviu para anunciar-lhe o fim deste espaço de opinião foi feita por “um dos responsáveis da Informação” da Antena 1, continua o jornalista, que não quis especificar quem daquele departamento lhe comunicou aquela decisão.
Rosa Mendes critica a emissão do programa televisivo Prós e Contras da RTP feita a partir de Angola, com a participação do ministro português que tutela a comunicação social, o ministro-Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas. Porém, o jornalista entende que “com tudo o que está em causa, foi uma crónica contida”. Aliás – prossegue –, a ser verdade que tenha sido dispensado por causa do teor desta crónica, essa decisão seria “muito estranha”, porque ele não foi “a única pessoa a ficar desagradada com a natureza e o conteúdo da emissão da RTP”. “Houve outras opiniões negativas nestes últimos dias”, aponta.

A crónica em causa foi emitida a 18 de Janeiro e integra um espaço de opinião que a Antena 1 tem, com o nome de “Este Tempo”. É assegurado por cinco pessoas – Rosa Mendes, António Granado, Raquel Freire, Gonçalo Cadilhe e Rita Matos e, segundo Rosa Mendes, todos eles estariam a ser informados que a crónica vai acabar. O PÚBLICO contactou João Barreiros, director de Informação da Antena 1, e António Granado, um dos cronistas, sem sucesso. Já Ricardo Alexandre, director-adjunto de Informação da Antena 1 e responsável pelo programa, disse não ter comentários a fazer.

A crónica estava no ar há cerca de dois anos e os contratos terminariam agora. Durante esse tempo, diz Rosa Mendes, nunca lhe foi dado nenhum feedback dando a entender que houvesse temas que fossem tabu ou que tivessem sido fixados “limites de censura”.

Na polémica crónica, Rosa Mendes começa por recordar que a RTP “serviu aos portugueses” uma emissão especial em directo de Luanda e à qual chamou “Reencontro” e “na qual desfilaram, durante duas horas, responsáveis políticos, empresários, comentadores de Portugal e de Angola, entre alguns palhaços ricos e figuras grotescas do folclore local”. “O serviço público de televisão tem estômago para muito, alguns dirão que tem estômago para tudo, mas o reencontro a que assistimos desta vez foi um dos mais nauseantes e grosseiros exercícios de propaganda e mistificação a que alguma vez assisti”, continua. Carregando nas críticas, o jornalista afirma que reencontrou nessa emissão, não um país irmão, mas “a falta de vergonha de uma elite que sabe o poder que tem e o exibe em cada palavra que diz”.

Rosa Mendes é um dos jornalistas portugueses que mais escreveu sobre a corrupção em Angola. Foi, aliás, alvo de dois processos judiciais por difamação, um dos quais por trabalhos editados pelo PÚBLICO e em que o queixoso era o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos. O tribunal não deu razão ao líder de Angola, tendo a Justiça também decidido a favor de Rosa Mendes no outro caso, em que o queixoso era Arcadi Gaydamak, um milionário russo que tem passaporte angolano e foi acusado de vender armas a Angola.


Nos cinco minutos e 34 segundos que dura a crónica, Rosa Mendes mistura dados relativos à economia e à política do país com citações de alguns outros especialistas que estudaram o que se passa naquele país, que usa uma “maquilhagem sofisticada”, da qual se destaca “o batom da ditadura, parafraseando o jornalista angolano Rafael Marques”. Este último, ou alguém como ele, teria de estar presente num programa que fosse um “reencontro digno para ambos os povos e ambas as audiências”, sustenta Rosa Mendes. Alguém “que chamasse corrupção à corrupção e não, quase a medo numa única pergunta – e passo a citar – ‘um certo tipo de corrupção’, como fez Fátima Campos Ferreira”, a jornalista que apresenta o referido programa da RTP e conduziu aquela emissão. 



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© José Pacheco Pereira
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